Rangel Alves da Costa*
Dizem que num tempo distante, após a morte de
um guerreiro da tribo, o velho cacique disse que daquela vez não haveria cantos
rituais nem rostos pintados de urucum. E disse ainda que dali em diante,
enquanto vida tivesse, não admitiria mais que o seu povo fingisse sua dor senão
com a demonstração de verdadeira dor. E se pôs a chorar. E todos choraram, e
todos intimamente sofreram.
Moral da história: A realidade deve ser
enfrentada sem disfarces, demonstrando na face e no íntimo toda dor de uma
perda, eis que somente assim haverá valorização daquele ideal pelo que se
lutou. E tal assertiva se aplica muito bem ao que ocorreu no pleito de ontem,
dia 26, com a reeleição da candidata petista. Diante do resultado, com a
certeza da continuidade da corrupção no poder, será justo e verdadeiro a dor e
o sofrimento naqueles que desejaram um Brasil melhor. Ora, foi o Brasil que
acabou derrotado.
Segundo já dizia Caminha na sua famosa Carta,
aqui se plantando tudo dá. E dá mesmo: corrupção, lamaçais, roubalheiras,
desvios do dinheiro público, improbidades e tudo mais que pudesse vir de um
partido político e sua governante. Mas a maioria do povo eleitor só enxerga
maravilhas, principalmente entre os nordestinos (e sou sertanejo), onde a
cegueira e a passividade acabaram redundando em tragédia. Não sabem, contudo, o
que os espera.
Esse deslumbramento insensato e incoerente
deu no que deu: Dilma reeleita, o PT continuando no poder e tudo o mais que se
possa esperar. E desde a noite de ontem uma imensidão de gente está em festa.
Foi dormir feliz porque acabou o temor de perder a esmola do Bolsa Família
(como tanto se espalhou) e assim não precisará mais trabalhar. É a institucionalização
da preguiça, da vergonhosa lassidão.
Certamente muitas velas foram acesas em
louvor a São Lula e a Santa Dilma, o pai e a mãe dos pobres. E também
padroeiros dos preguiçosos e corruptos. Ainda ontem à noite chegavam notícias
de farras em botequins interioranos com o cartão do Bolsa Família servindo como
garantia de pagamento. Esfuziantes, os neopetistas bradavam que a farra e a
esbórnia estavam garantidas por mais quatro anos.
Mas se assim eles quiseram, que assim fosse.
Mesmo que grande parte dessa maioria
votante no petismo não tenha capacidade suficiente para saber da dimensão da
tragédia advinda com tal eleição, as consequências do clientelismo e do
analfabetismo político acabam afligindo a todos, indistintamente. Por causa de
alguns todos irão pagar. Todos serão vitimados pela sanha voraz do petismo e
dessa governanta. Serão mais quatro anos de mentiras, ladroeices e descalabros
administrativos.
Mas eis o Brasil das maravilhas, segundo a
maioria dos eleitores. Educação, saúde, segurança, emprego, salário, tudo
maravilhoso, eficiente, de primeiro mundo. Não há inflação, não há corrupção
nem corruptos no governo, a pobreza foi dizimada, não há mais ninguém morando
em barraco, todos têm alimento à mesa, uma verdadeira fartura. O país de
políticos honestos e governantes íntegros, externamente reconhecido como
liderança mundial em bonança e desenvolvimento. É assim que o eleitor de Dilma
imagina o Brasil. E por isso mesmo lhe confiou a continuidade dessa perfeição.
Que Aécio, mesmo com os seus 51 milhões de
votos, não se tenha por vitorioso por ter enfrentado a máfia governamental e
ainda assim ser reconhecido por tantos eleitores. Não, eis que derrotado como todo
brasileiro, mesmo aqueles que tenham ajudado a eleger seus algozes. Aécio foi
derrotado, eu fui derrotado, você foi derrotado, o Brasil foi derrotado. E por
muito tempo o país não conseguirá se recompor dos lamaçais acumulados pelo
petismo.
Faço como o velho cacique. Não finjo a dor,
não finjo o sofrimento. Eis em mim o reconhecimento de uma realidade que muitos
se negam a enxergar. Mas quem viver verá.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Caro Cronista Dr. Rangel: O meu bom dia após uma eleição concluída.
O nobre neto de Tancredo comprovou grande potencial, mas, infelizmente ainda não foi a sua vez. Espero que o nosso povo não continue no sofrimento das filas dos corredores dos hospitais como tem acontecido. Espero que a educação e a segurança deste nosso querido Brasil possa um dia terem um alento, pois como está, se continuar, o povo não vai suportar.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha
Postar um comentário