Rangel Alves da Costa*
Os governantes de Sergipe e de Aracaju desde
muito que mudaram de endereço. O antigo Palácio Provincial inaugurado em 1963,
e Palácio Olímpio Campos desde 1954, localizado na Praça Fausto Cardoso, deixou
de abrigar a governança estadual desde os idos de 1997. O último governo que
ali despachou foi o de Albano Franco. Passou por reformas e atualmente abriga o
Palácio-Museu Olímpio Campos, mantendo preservado nas suas dependências um
importante acervo não só da história política e cultural sergipana como de seus
governantes.
Após a fachada neoclássica, adentrando na
imponente construção logo se pressente uma atmosfera de tempos distantes e mais
recentes, num contexto envolvendo os meandros do poder, dos enlaçamentos
políticos, das posturas dos governantes. Ali ainda os ecos das ordens, das
urgências, das decisões que provocaram grandes mudanças na vida política
sergipana. Ainda as sombras das revoltas, das ameaças, das sublevações. Os
salões suntuosos, as salas de reuniões, os gabinetes, as madeiras de lei
envernizadas pelas mãos assinando a história.
A atmosfera política é atenuada pela profusão
artística encontrada desde a entrada. Os painéis de Jordão de Oliveira, bem
como as pinceladas de outras artistas emolduradas nos ambientes, passando pelas
escadarias e enveredando pelos seus cômodos, demonstram a riqueza palaciana e a
importância cultural e histórica em cada espaço, mobiliário ou obra de arte.
Mas também lembranças de um tempo de tenacidade e até violência. Muitos foram
os conflitos, conspirações e traições sangrentas que rondaram seus arredores,
subiram suas escadarias e colocaram em perigo o poder. E até o destronaram
algumas vezes.
Foi ainda num de seus aposentos que na
madrugada do dia 02 de abril de 1964 o então governador Seixas Dória foi
despertado para ser preso, acusado de subversão pelo regime militar então
instalado e enviado para a Ilha de Fernando de Noronha. Pelos arredores a voz
de Fausto Cardoso bradando contra a oligarquia do monsenhor Olímpio Campos e
tentando demover das forças federais a pretensão de recolocar no governo
Guilherme Campos, irmão do religioso senador.
E também o zunido do disparo em sua direção e o seu grito de morte. No ventre
ferido, o desfecho fatal e a Revolta de Fausto Cardoso submetida ao poder
oligárquico.
Destino inverso teve a sede do governo municipal.
Construído em 1923, o Palácio Inácio Barbosa, denominação em homenagem ao
presidente da província responsável pela fundação da cidade, está situado um pouco
mais atrás do palácio estadual, na Praça Olímpio Campos, defronte ao parque
Teófilo Dantas e nas vizinhanças da Catedral Metropolitana. Marcelo Déda foi o
último gestor municipal que ali possuiu gabinete e assento. Desde 2005 que teve
suas portas fechadas e assim continua, sem uma indicação de sua destinação
futura ou possibilidade de novamente abrigar a sede da governança municipal.
Dois monumentos palacianos, sob a
justificativa de reformas para adequação dos espaços, preteridos pelos seus governantes.
Duas histórias preservadas de modos diferentes, coincidentemente localizados em
praças que não se debandaram porque fincadas na terra. Tanto a Praça Fausto
Cardoso como a Olímpio Campos se distanciam muito da pujança dos monumentos que
abrigam, ainda que o palácio municipal não seja mais avistado senão como uma
construção histórica envelhecida, de portas fechadas, ao desvão da voracidade
do tempo.
Pela importância histórica e localização,
pois centrais na ambientação da cidade, as duas praças mereciam consideração
maior por parte da administração municipal, competente que é pela manutenção,
reforma e preservação dos espaços públicos. O que se tem, contudo, são
promessas de melhorias que nunca são realizadas a contento. Por consequência, o
que se avista são espaços contendo apenas palmeiras, árvores imponentes,
canteiros verdejantes, revestimentos em pedras, mas sem equipamentos próprios
que permitam maior fruição e comodidade de quem as visita ou simplesmente
caminham pelos arredores.
São praças solitárias, tristes, silenciosas,
parecendo despercebidas em meio ao centro aracajuano. São ambientações
retraídas, sem força convidativa alguma para turistas e nativos que por ali
transitam apenas como itinerários. Para se ter uma ideia, os dois coretos da
Praça Fausto Cardoso tornaram-se sinônimo de desolação. Uns poucos bancos
faltando tábuas e nada mais que isso. Contudo, muito mais atrativa que a Praça
Olímpio Campos, cujo Parque Teófilo Dantas, na área defronte e aos lados da
catedral não possui um assento sequer. E quem já viu praça sem atrações, sem
bancos, sem nada além de canteiros e folhas caídas? Distante o tempo dos
pássaros e peixes, das águas correndo, das vistosas estátuas dos índios.
Com feição um pouco diferente é a Praça
Almirante Barroso, situada entre o Palácio-Museu e da Câmara de Vereadores, em
meio às duas praças referidas. Mas muito mais deserta que as demais. Ali
palmeiras centenárias, bancos e até mesinhas de concreto, um local apenas de
passagem ou de encontros românticos. A qualquer hora do dia casais são
avistados pelos bancos aos beijos e abraços, ainda que quase ao lado do velho
banheiro público e seus segredos. Mas nada os incomoda, sequer o olhar
petrificado, porém vigilante, na vetusta estátua do almirante.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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