Rangel Alves da Costa*
Aqui apenas algumas reflexões sobre a vida,
algumas considerações sobre a existência humana e sua valia sobre a face da
terra.
Talvez você já tenha feito isso. De repente
resolve sentar num banco de rua movimentada e ficar por algum tempo observando
as pessoas que passam. Silenciosamente avista suas feições, faz observações
pessoais e depois vê que vão seguindo até sumirem na multidão.
São pessoas altas, magras, simpáticas, feias,
gordas, esbeltas, corcundas, morenas, louras, brancas, negras, de cabelos
escorridos ou encaracolados. Pessoas de todos os tipos, matizes, idades e
feições, que caminham seguindo seus destinos na vida.
Mas dificilmente você se põe a imaginar o
seguinte: todos aqueles caminhantes, do mais novo ao mais velho, um dia
morrerão, noutro dia já não mais existirão sobre a terra, simplesmente
desaparecerão fisicamente desse mundo. E alguns deles mais cedo que se poderia
imaginar.
Há o percurso na vida e há o destino na
morte. E não há como fugir da predestinação da morte após o nascimento, ainda
que a existência seja de longa duração. E você que olha aquelas pessoas
passando, seguindo adiante, poderá muito bem fazer outra reflexão diante do
comportamento de cada um.
Ali vai uma que mais parece andando por cima
de uma passarela, toda empinada, espelhando luxo e vaidade, olhando sempre para
o seu próprio nariz e não demonstrando qualquer consideração pelas pessoas
humildes que ladeiam seu caminhar. E tanta empáfia e esnobismo para ter o mesmo
destino de qualquer um: a morte.
Ali vai um jovem e acolá segue um velho. O
adolescente na flor da idade, curtindo seu momento mais precioso na vida,
talvez fazendo planos para o futuro. O ancião caminhando lentamente, talvez
sentindo marcas dolorosas do tempo sobre o corpo, carregando um aspecto que
logo se supõe não ter mais muito tempo por aqui. E eis que tudo poderá se
inverter, segundo os desígnios da existência.
Ser jovem não significa que viverá até chegar
à porta de trás da velhice. Já ter chegado à velhice não significa que já tenha
os dias contados sobre a terra. O mais jovem pode partir primeiro, o mais velho
poderá prantear aquele que talvez seja o seu neto. Ninguém pode assegurar a
prevalência na despedida de quem quer que seja.
E aqui vale relembrar a conhecida frase: Os
pais não deveriam sepultar os seus filhos. Ou aquela outra dizendo: Os
desígnios da vida humana não raramente refletem a existência da flor e da
planta que a faz nascer. A flor morre e a planta fica. Também os pais permanecem
enquanto suas crias se vão.
São as circunstâncias da existência que irão
permitir viver mais ou menos, principalmente quando se procura preservar o
sopro que lhe foi permitido ou torna ao acaso a oportunidade corporal que lhe
foi confiada. A verdade é que após a maturidade a raiz parece obter maior
sustentação sobre a terra. O ser humano vai aprendendo na experiência a se
precaver dos chamados que se repetem a todo instante.
Mas tudo apenas reflexões sobre a vida,
algumas simples considerações sobre a existência. Mas nada que se insira na
filosofia do ser ou na metafísica da essência existencial humana. Contudo,
forçoso é inserir o ser humano na dualidade do ser e do nada. E assim porque
ser completo e ser vazio, tudo sendo, ou supondo que seja, para depois nada
ser.
Aquele que senta diante da multidão e se põe
a observá-la atentamente, logo será instigado a pensar. Basta possuir um poder
de reflexão mais aprofundado para constar que todos que por ali passam possuem
um outono escondido nos seus corpos e feições. Caminham com primaveras, verões
ou invernos, mas ocultamente carregam também o outono. E é esta estação que se
torna de essencialidade em suas vidas.
Ora, o outono deve ser compreendido não só
como uma das quatro estações naturais, aquela de plantas tristes e flores
mortas, mas também como da natureza humana, da vida. Durante todo o percurso da
existência, seja maior ou menor, o ser humano vai construindo seu outono
interior.
Assim ocorre não só com as forças que aos
poucos vão se fragilizando, mas também com as ocorrências na caminhada que vão
desbotando as flores da esperança, desaquecendo o sol da luta e sombreando as
perspectivas. Muita gente acha que não, que enquanto viver resplandecerá a
primavera em seu ser, mas incorrerá no risco de ter seu outono revelado de
forma ainda mais angustiante.
O ser humano é raiz, é árvore, é tronco, é
galho e folha. O homem é natureza, e com todas as suas estações. Mas é o outono
que irremediavelmente mais lhe afeiçoa e caracteriza. Vive, segue, constrói, sonha,
planeja, mas de repente sente que não possui mais aquela pujança de outros
tempos. E ao mirar o espelho sentirá que sua paisagem está ficando triste,
sombreada, que é um outono.
E no outono as folhas se fragilizam, perdem o
viço, começam a cair. Logo chega uma ventania para espalhar adiante aquilo de
tanta beleza um dia. E a vida humana também tem suas folhas frágeis, ocres,
ressequidas. Mas não precisará que nenhuma ventania passe para levar os restos,
eis que o vento da morte é a despedida, a certeza de um adeus sem resposta.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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