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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A VIDA


Rangel Alves da Costa*


Aqui apenas algumas reflexões sobre a vida, algumas considerações sobre a existência humana e sua valia sobre a face da terra.
Talvez você já tenha feito isso. De repente resolve sentar num banco de rua movimentada e ficar por algum tempo observando as pessoas que passam. Silenciosamente avista suas feições, faz observações pessoais e depois vê que vão seguindo até sumirem na multidão.
São pessoas altas, magras, simpáticas, feias, gordas, esbeltas, corcundas, morenas, louras, brancas, negras, de cabelos escorridos ou encaracolados. Pessoas de todos os tipos, matizes, idades e feições, que caminham seguindo seus destinos na vida.
Mas dificilmente você se põe a imaginar o seguinte: todos aqueles caminhantes, do mais novo ao mais velho, um dia morrerão, noutro dia já não mais existirão sobre a terra, simplesmente desaparecerão fisicamente desse mundo. E alguns deles mais cedo que se poderia imaginar.
Há o percurso na vida e há o destino na morte. E não há como fugir da predestinação da morte após o nascimento, ainda que a existência seja de longa duração. E você que olha aquelas pessoas passando, seguindo adiante, poderá muito bem fazer outra reflexão diante do comportamento de cada um.
Ali vai uma que mais parece andando por cima de uma passarela, toda empinada, espelhando luxo e vaidade, olhando sempre para o seu próprio nariz e não demonstrando qualquer consideração pelas pessoas humildes que ladeiam seu caminhar. E tanta empáfia e esnobismo para ter o mesmo destino de qualquer um: a morte.
Ali vai um jovem e acolá segue um velho. O adolescente na flor da idade, curtindo seu momento mais precioso na vida, talvez fazendo planos para o futuro. O ancião caminhando lentamente, talvez sentindo marcas dolorosas do tempo sobre o corpo, carregando um aspecto que logo se supõe não ter mais muito tempo por aqui. E eis que tudo poderá se inverter, segundo os desígnios da existência.
Ser jovem não significa que viverá até chegar à porta de trás da velhice. Já ter chegado à velhice não significa que já tenha os dias contados sobre a terra. O mais jovem pode partir primeiro, o mais velho poderá prantear aquele que talvez seja o seu neto. Ninguém pode assegurar a prevalência na despedida de quem quer que seja.
E aqui vale relembrar a conhecida frase: Os pais não deveriam sepultar os seus filhos. Ou aquela outra dizendo: Os desígnios da vida humana não raramente refletem a existência da flor e da planta que a faz nascer. A flor morre e a planta fica. Também os pais permanecem enquanto suas crias se vão.
São as circunstâncias da existência que irão permitir viver mais ou menos, principalmente quando se procura preservar o sopro que lhe foi permitido ou torna ao acaso a oportunidade corporal que lhe foi confiada. A verdade é que após a maturidade a raiz parece obter maior sustentação sobre a terra. O ser humano vai aprendendo na experiência a se precaver dos chamados que se repetem a todo instante.
Mas tudo apenas reflexões sobre a vida, algumas simples considerações sobre a existência. Mas nada que se insira na filosofia do ser ou na metafísica da essência existencial humana. Contudo, forçoso é inserir o ser humano na dualidade do ser e do nada. E assim porque ser completo e ser vazio, tudo sendo, ou supondo que seja, para depois nada ser.
Aquele que senta diante da multidão e se põe a observá-la atentamente, logo será instigado a pensar. Basta possuir um poder de reflexão mais aprofundado para constar que todos que por ali passam possuem um outono escondido nos seus corpos e feições. Caminham com primaveras, verões ou invernos, mas ocultamente carregam também o outono. E é esta estação que se torna de essencialidade em suas vidas.
Ora, o outono deve ser compreendido não só como uma das quatro estações naturais, aquela de plantas tristes e flores mortas, mas também como da natureza humana, da vida. Durante todo o percurso da existência, seja maior ou menor, o ser humano vai construindo seu outono interior.
Assim ocorre não só com as forças que aos poucos vão se fragilizando, mas também com as ocorrências na caminhada que vão desbotando as flores da esperança, desaquecendo o sol da luta e sombreando as perspectivas. Muita gente acha que não, que enquanto viver resplandecerá a primavera em seu ser, mas incorrerá no risco de ter seu outono revelado de forma ainda mais angustiante.
O ser humano é raiz, é árvore, é tronco, é galho e folha. O homem é natureza, e com todas as suas estações. Mas é o outono que irremediavelmente mais lhe afeiçoa e caracteriza. Vive, segue, constrói, sonha, planeja, mas de repente sente que não possui mais aquela pujança de outros tempos. E ao mirar o espelho sentirá que sua paisagem está ficando triste, sombreada, que é um outono.
E no outono as folhas se fragilizam, perdem o viço, começam a cair. Logo chega uma ventania para espalhar adiante aquilo de tanta beleza um dia. E a vida humana também tem suas folhas frágeis, ocres, ressequidas. Mas não precisará que nenhuma ventania passe para levar os restos, eis que o vento da morte é a despedida, a certeza de um adeus sem resposta.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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