Rangel Alves da Costa*
Ainda há tempo para a busca da felicidade.
Creio profundamente nessa possibilidade. Diante de tal perspectiva, creio
também que ainda resta um pouco de consciência, de razão e sensibilidade nos
milhões de eleitores que logo mais estarão escolhendo o próximo governante
maior do país. E o mesmo vale para governadores, senadores e deputados.
Contudo, diante das últimas pesquisas, não
posso deixar de temer que o grito das ruas seja transformado em silêncio nas
urnas. Por outras palavras, chega a assustar a possibilidade de repentinamente
aqueles manifestantes de junho do ano passado ou mesmo todos aqueles que sofrem
na carne, no bolso e na mesa, se transformem em eleitores de seus algozes.
Seria lamentável observar que o povo que
tanto exigiu mudanças, bradou pela moralidade na política, mostrou os porões
putrefatos do poder e exigiu o fim da corrupção disseminada em todas as esferas
palacianas, agora recue, se contradiga, queira carregar sobre si a culpa por
acolher e reeleger quem lhe relega um país sem esperanças.
Seria deplorável avistar aquela mesma
multidão que ontem levantava revoltosas bandeiras, gritava indignações e até
confrontava as armas, agora caminhando em direção às urnas para votar naqueles
que tanto chamou de corrupto, ladrão, mau gestor, mentiroso, inerme no poder.
Tudo devidamente aplicável também à mandatária maior, sob cujos grilhões o povo
brasileiro tanto padece.
As ideias foram esquecidas, os pensamentos
esvaziados e os guerreiros derrotados por si mesmos, pela sua covardia, pelo
seu conformismo e aceitação do pior como destino que lhe afeiçoa. Triste pensar
assim, principalmente quando a letra do hino diz que o filho teu não foge à
luta. Triste agora sentir um povo parodiando outra estrofe de seu hino: Deitado
eternamente em escravismo esplêndido!
Será que os ecos do passado distorcem as
palavras, os gritos, ou aquelas vaias e achincalhes proferidos nos estádios
contra a presidenta Dilma se transformaram em vivas e agradecimentos? Será que
a educação brasileira é de tamanha qualidade ao ponto de o povo aprender que
inflação alta é coisa boa, que uma vergonhosa esmola é demonstração de cuidado
com o povo, que o governo não tem culpa alguma quando a nação é roubada pelos
seus próprios agentes?
Será que o senso tropical do povo brasileiro
e sua verve naturalista acabaram incutindo na sua mente que é assemelhado ou
igual àquela simbologia dos três macacos: um não ouve, outra não fala e o outro
não vê? Estaria ali a caracterização perfeita do eleitor brasileiro? Ou a
idiotice lhe acometeu a tal ponto de não mais se reconhecer como gente e se
compraz em servir aos objetivos escusos e sempre corruptos do PT? Não se
deveria falar mal dos generais, das botas cruéis da ditadura, dos terríveis
porões. Ora, Dilma é tão ou mais cruel, mais bruta, mais impiedosa e arrogante
que o mais cruel dos generais daqueles tempos terríveis.
Eis a dissimulação em pessoa. Aquele sorriso
esconde o veneno e o fel, aquele aceno esconde a mão generalesca que sustenta a
sua impiedosa arrogância. Se os seus subordinados temem tanto o seu
autoritarismo, ditatorialismo e prepotência, que se imagine o povo humilde, o
zé-ninguém debaixo de suas solas. E de uma teimosia sem igual. Tudo vai mal e a
insistência em maquiar os fatos. Por consequência, uma mentirosa também sem
igual. Ou o povo não encontra a verdade quando precisa de hospital, quando faz
compra ou quando é jogado à violência?
De repente, imagina-se viver num país com
duas faces totalmente diferentes. Aquele alardeado pelo governo, onde tudo está
às mil maravilhas, tudo funciona com qualidade, tudo de primeiro mundo. Não há
inflação, não há corrupção, há controle absoluto na economia, tudo de fazer
inveja aos países mais desenvolvidos. E aquele outro país, o real, o
verdadeiro, contradizendo em tudo as mentiras e os engodos palacianos.
Surge, então, o questionamento: Votar na
Dilma do país da mentira ou mostrar a ela que vive num país de verdades
estarrecedoras? Votar na Dilma que engana, que mente, que é arrogante,
autoritária e prepotente, ou mostrar a ela que o país precisa de um governante
decente, sincero, humano? Cabe a cada eleitor escolher. Mas, segundo as últimas
pesquisas, a maioria prefere mesmo viver num país de faz-de-conta e com uma
governante que também faz de conta que o povo existe.
Mas seja o que Deus quiser. Mas é melhor
deixar Deus fora disso, ainda que ele a tudo observe e se questione: Onde foi
que eu errei com esse povo brasileiro?
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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