*Rangel Alves da Costa
Desde muito tempo que os jornais vão sendo
arremessados dentre da varanda e vão ficando acumulados pelos cantos sem que eu
tenha mais vontade de sequer lançar qualquer olhar às manchetes da primeira
página. Desde muito que o novo acontecido já chega tão envelhecido que nada diz
de bom. O mesmo sangue derramado, a mesma lágrima chorada, a mesma dor
pranteada, o mesmo espanto espantando o alvorecer. Desde muito que o preço só
aumenta, que o terror vai acumulando vítimas, que a política mostra seus
ocultos podres, que os poderes lançam suas garras. Político, político,
político, corrupção, corrupção, corrupção, ninguém aguenta mais. Não quero
flores nos jornais, mas também me afasto da sujeira escrita. Não me sinto bem
folheando a podridão dos excrementos de um mundo desmundo. Tudo me dói a cada
jornal que chega. Não há mais receita de bolo nem resenha boa, não há mais um
folhetim de um amor assim sofrido e incompreendido, não há mais a fofoca da
socialite que traiu o ricaço pela quinta vez - num mês. Os jornais que chegam
já não têm serventia, as suas notícias não existem mais. Tudo que amanhece já
se modificou e na soma do fato um espanto maior. Que tudo fique pelos cantos,
que se acumule e se autodestrua. O mal da manchete há de fazer vingança, e pelas
mãos da própria letra escrita na história.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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