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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Palavra Solta - os jornais amontoados pelos cantos


*Rangel Alves da Costa


Desde muito tempo que os jornais vão sendo arremessados dentre da varanda e vão ficando acumulados pelos cantos sem que eu tenha mais vontade de sequer lançar qualquer olhar às manchetes da primeira página. Desde muito que o novo acontecido já chega tão envelhecido que nada diz de bom. O mesmo sangue derramado, a mesma lágrima chorada, a mesma dor pranteada, o mesmo espanto espantando o alvorecer. Desde muito que o preço só aumenta, que o terror vai acumulando vítimas, que a política mostra seus ocultos podres, que os poderes lançam suas garras. Político, político, político, corrupção, corrupção, corrupção, ninguém aguenta mais. Não quero flores nos jornais, mas também me afasto da sujeira escrita. Não me sinto bem folheando a podridão dos excrementos de um mundo desmundo. Tudo me dói a cada jornal que chega. Não há mais receita de bolo nem resenha boa, não há mais um folhetim de um amor assim sofrido e incompreendido, não há mais a fofoca da socialite que traiu o ricaço pela quinta vez - num mês. Os jornais que chegam já não têm serventia, as suas notícias não existem mais. Tudo que amanhece já se modificou e na soma do fato um espanto maior. Que tudo fique pelos cantos, que se acumule e se autodestrua. O mal da manchete há de fazer vingança, e pelas mãos da própria letra escrita na história.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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