*Rangel Alves da Costa
Não significa dizer da feiura ou da boniteza
da pessoa. Ninguém é tão feio ou tão bonito que não encontre alguém que lhe
ache bonito ou feio. Mas feio mesmo é a arrogância, a brutalidade, o
autoritarismo. Bonito mesmo é a simplicidade, a humildade, a fraternidade. Feio
mesmo é a buzina do carro, a fumaça da fábrica e o muro pichado. Bonito mesmo é
o silêncio da praça, o pombo da praça e o banco da praça. Feio é a conta, a
fatura, o boleto, a cobrança sem fim. Bonito mesmo é a janela aberta, a brisa
soprando, o passarinho em revoada. Feio é a briga, o bate-boca, a discussão, o
nada fazer de gentinha que se compraz em futricas e aleivosias. Bonito mesmo é
a chuva caindo, a planta nascendo, o rio correndo. Feio é o sangue jorrando, a
violência gritante, a insensatez em festa. Bonito mesmo é a flor aflorada, a
pétala espraiada, o beijo do beija-flor. Feio é o que noticia o jornal, o que
mostra a televisão, o que se torna processo envolvendo políticos e autoridades.
Bonito mesmo é a palavra cumprida, a honra reconhecida, o prestimoso caráter.
Feio é este Brasil do jeito que vem e do jeito que está agora, de governante
tão corrupto quanto os corruptos já presos ou processados. Bonito mesmo é ter
esperança. Mas difícil demais ter esperança num país assim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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