*Rangel Alves da Costa
Sou matuto. Sou calango de pedra. Sou preá de
tufo de mato. Sou estrada espinhenta e beirada de riacho seco. Sou casebre e
fogão de lenha, sou rede no alpendre e ninho de graveto na cumeeira. Sou a flor
do mandacaru e o espinho de quipá, sou a fome e a sede. Sou o grão e o pingo de
chuva. Sou o grito e a solidão. A alegria e a aflição. Um sertão! Sou humilde e
humilhado, mas feliz assim mesmo. Tenho o rosto lanhado de sol e os pés e as
mãos varados de espinhos, tenho desajeito no andar e conversa pouca, quase
nada, mas de maior valia que a de qualquer doutor. Sou o homem da pedra, do
mandacaru, do xiquexique, da macambira, da aroeira, pois sertanejo sim senhor.
Acostumado com as durezas da vida e as desolações do tempo, eu cozinho no barro
vermelho o alimento futuro. Quero muito não, apenas viver e apenas merecer cada
vez mais este meu sertão. Sertão de vereda, de tufo de mato, de preá escondido.
De vez em quando uma codorna, uma nambu, um bicho do mato. Tudo amigo meu, pois
tudo da terra como da terra sou. E do alto ao reles do chão, o homem na sua
inteireza: o sertanejo. Matuto, caipira, trabalhador. Matuto sou!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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