*Rangel Alves da Costa
Não ato mais difícil de ser feito do que
escrever quando a mente não desaparta de uma memória indesejada. Imagino ser
fácil transmudar o pensamento, mas tudo martelando por dentro se repetindo e se
repetindo. Saio, vou a lugar e outro, mas não adianta. A imagem mental retorna,
o pensamento não desenlaça o nó, tudo parece se voltar para aquilo tão
indesejado. A escrita até que seria um modo bom de levar a mente a outras
paisagens, a outros pensamentos, porém não adianta. Sentei aqui na intenção de
esquecer aquilo tudo, mas não adianta. Enquanto teclo, enquanto tento escrever,
outra coisa não povoa a mente senão o sofrimento interno, doloroso,
angustiante. Juro que já fui à igreja, já caminhei como errante, já tentei
ouvir música. Mas tudo o que faço não consegue superar nem apagar o que insiste
em martirizar. Neste desvão de existir, resta somente criar um personagem que
seja eu mesmo e escrever: E ele seguiu sem ir. E ele partiu sem sair de onde
estava. Não podia seguir nem partir. O pensamento o acorrentava aos velhos
vultos e aos espectros de um angustiante amor e seu adeus.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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