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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Palavra Solta – ilusões fingidas



*Rangel Alves da Costa


A ferrugem enferruja o ferro. Verdade visível, absoluta. A pedra dura, inflexível e impenetrável, vai se tomando de musgos, vai sendo açoitada pelo tempo, vai, imperceptivelmente, sendo carcomida. O diamante, com sua solidez petrificada, ainda assim vai sendo alquebrado pela ação humana. E o que dizer do ferro, o tão conhecido metal que sempre aparenta força, durabilidade e resistência? O ferro e o ser humano vivem de aparências. Este, o ser humano, sempre querendo se mostrar inflexível e inatacável, não suporta sequer o sopro do vento. A dureza humana é desfeita com simples ações. Quando sua máscara cai, tudo desmorona. Quando seu segredo é revelado, então todo o seu interior pode ser avistado. Quando desce do pedestal, então sente que tem de suportar os espinhos. Ainda assim muito ser humano se mostra com inexistente altivez. Quanta ilusão em fingidas fortalezas que não suportam sequer um sopro de verdade. Os cemitérios, as sepulturas e as covas rasas, estão cheios de pedreiras humanas em pó transformadas. Fantasmas vagueiam achando que levam escudo e coroa. Apenas um nada sob a forma humana. Triste ouvir “Eu sou!”. És o que? Nada mais que uma ilusão. Bem assim aconteceu com o ferro. Imponente, inatacável, indestrutível, mas baixou a cabeça quando a maresia soprou. Começou a sentir nas entranhas a fragilidade. Ainda assim se mostrou mais inflexível e mais arrogante. Então a ferrugem acariciou sua pele, dizendo: “Mostrarei o que és!”. E hoje do ferro nada mais resta. A ferrugem do tempo destruiu o ferro da vida.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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