SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 15 de maio de 2018

Palavra Solta - “ai se sesse...”



*Rangel Alves da Costa


O menino faminto comeu a gramática. A vaca magrela mordeu todo o léxico. O moribundo cavalo engoliu o fonema. A família encheu a barriga com a prosopopeia. O gato fraquejante bebeu a vogal. O cachorro sarnento lambeu a sintaxe. Tanto faz, né?! Pra que tanta normatividade na língua se não há pão, feijão, arroz, jabá, café, açúcar, um tico de nada. Razão com Seu Jeremias. Diga aí homem bom: “Ai se sesse cuma a gente quer. Ai se tudo sesse bem diferente disso tudo agora. Se o mundo sesse mió. Se a vida sesse mió. Se num fartasse comida, ai se sesse assim. Ai se sesse omeno cuma a gente merece. Riqueza não, mai um de viver merece. Ai se sesse meno seca a mai chuvarada, ai se sesse meno agonia e mai contentamento. Ai se sesse uma nutiça boa, um dizê que dizesse meno coisa ruim. Ai se sesse o que num sinto agora, e tarvez sesse uma vida mió. Ai meu Deus, ai se sesse. Mai vai inda vai ser. E eu pudesse drumi e aina sonhar e aina me dizê na felicidade. E sesse alegre ao mno uma vez e pra sempre meu sorriso vivesse. Ai se sesse...”.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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