*Rangel Alves da Costa
O menino faminto comeu a gramática. A vaca
magrela mordeu todo o léxico. O moribundo cavalo engoliu o fonema. A família
encheu a barriga com a prosopopeia. O gato fraquejante bebeu a vogal. O
cachorro sarnento lambeu a sintaxe. Tanto faz, né?! Pra que tanta normatividade
na língua se não há pão, feijão, arroz, jabá, café, açúcar, um tico de nada.
Razão com Seu Jeremias. Diga aí homem bom: “Ai se sesse cuma a gente quer. Ai
se tudo sesse bem diferente disso tudo agora. Se o mundo sesse mió. Se a vida
sesse mió. Se num fartasse comida, ai se sesse assim. Ai se sesse omeno cuma a
gente merece. Riqueza não, mai um de viver merece. Ai se sesse meno seca a mai
chuvarada, ai se sesse meno agonia e mai contentamento. Ai se sesse uma nutiça
boa, um dizê que dizesse meno coisa ruim. Ai se sesse o que num sinto agora, e
tarvez sesse uma vida mió. Ai meu Deus, ai se sesse. Mai vai inda vai ser. E eu
pudesse drumi e aina sonhar e aina me dizê na felicidade. E sesse alegre ao mno
uma vez e pra sempre meu sorriso vivesse. Ai se sesse...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário