SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 11 de maio de 2018

Palavra Solta - lenha de fogão



*Rangel Alves da Costa


O mundo tá difícil. Viver não é fácil não. A estrada de flores só na poesia. Não há melodia na canção do dia. Sempre luta, sempre cansaço, sempre agonia. Levantar cedinho e juntar pó de café, catar qualquer coisa para enganar o bucho. Lá fora não chove e por dentro secou. Panela arejada pra pouca comida. A água do pote já está na fundura. São as folhas secas que dizem do tempo e quanto mais se espalham mais secura vem. A porta aberta pra tanta tristeza. Um calango passa sem ter que fazer. Arapuca envelheceu de armada, a fruta do mato desapareceu. O sol entra na casa e se diz dono de tudo. E queima e arde sem ter piedade. Assim todo dia, assim toda hora, mas fazer o que, mas fazer o que? A tarde arriba e ainda a luta, ao menos o café vai botar no fogo. Sem gás de cozinha o fogo é de lenha. A lenha tá longe, lá dentro do mato. Arruma uns gravetos e junta em feixe, derruba ao chão ao redor do tijolo. E de repente o fogão de lenha já está aceso, mas não há mais café. Não há mais café.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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