*Rangel Alves da Costa
Encanta-me
e encho o coração de esperança, todo vez que encontro pessoas persistentes e
abnegadas pelo resgate e manutenção das raízes mais profundas e belas de Nossa
Senhora da Conceição de Poço Redondo.
Com Dona
Domingas, esta de óculos na foto abaixo, ao lado de Cenira, é assim. Mesmo não
sendo nascida em Poço Redondo, a nova terra abraçou como se fosse um berço
amado. Chegou com esposo e filhos, mas hoje já trouxe até o pai e a mãe.
E, de
igual importância, logo procurou tirar do quase esquecimento a beleza e a
tradicionalidade da renda de bilro. Não apenas da renda feita em almofada e
cujos traçados envolvem espinhos de mandacaru, bilros, formas e linhas, mas
principalmente a maestria das mãos, mas toda forma de arte com linhas e panos.
E que mãos
hábeis são as das rendeiras, das artistas da terra. Mas como dito, a cultura da
renda de bilros poço-redondense já vinha definhando, já estava perdendo toda a
sua pujança. Apenas algumas senhoras, como Conceição de Laura, Cenira e outras,
continuavam com seus ofícios de calçadas e silêncios ao entardecer.
Uma arte
já parecendo com os dias contados. E muito diferente de outros tempos, quando
dificilmente não era avistada uma rendeira pelas salas ou pelas calçadas de
Poço Redondo. Assim com Dona Clotilde, com suas irmãs Dom, Araci e Maria de
Miguel. Assim com Dona Carmosina e tantas outras.
Entretanto,
depois destas, pois somente Dona Clotilde continua entre a gente, até pareceu
que a cultura do bilro já não encontraria número suficiente de seguidores assim
que as últimas rendeiras abdicassem de vez de seus ofícios.
Mas eis
que chegou Dona Domingas e reinventou a arte. Eis que chegou Dona Domingas e
reanimou esse fazer antigo, mas tão novo e encantador a cada bilro que é
dedilhado. E ela não só pratica como ensina. Chega até gente de muito longe
para que ela ensine alguma coisa deste nobre ofício.
A abnegação
de Dona Domingas é tamanha que fez florescer em suas jovens filhas o mesmo
gosto pelo ofício da renda, da arte, do artesanato, da criatividade tipicamente
sertaneja. Suas filhas, assim como a mãe, parecem nascidas com o destino da
preservação, da continuidade.
Hoje é uma
família rendeira, ainda que as moças se dividam entre os estudos, outros
ofícios e as almofadas. E sem elas certamente que Poço Redondo não estaria
novamente reencontrando seu amor e sua dedicação pela renda de bilros.
E que as
gerações vindouras tomem gosto pelo que é nosso, tenham prazer em cultuar e
cultivar o que tão belamente as nossas raízes nos legaram. Na renda bilros,
sempre desejada e admirada por todos, a oportunidade maior de expressar os dons
artísticos tão próprios do sertanejo.
E fazer
ainda, e dedilhar ainda, assim como a mãe fazia, assim como a avô fazia, assim
como a bisavô vivia o seu dia.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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