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domingo, 6 de maio de 2018

O CIO E O AMOR QUE MATA



*Rangel Alves da Costa


O sexo é belo e divinal, tanto se apregoa. Para o ser humano sim, que não sai sem pedaços depois do prazer ou não se finda depois do gozo. A não ser por perversão, o ato sexual é tão belo quanto inspirador. Muito diferente do que ocorre com outras espécies de animais.
Passando a exemplificar. Quando estão com desejo sexual intenso, saindo de suas tocas em busca de acasalamento, ainda assim os escorpiões agem com extremo cuidado diante da parceria encontrada. Avistam-se, se querem, se buscam, mas num repente a fêmea pode injetar seu ferrão venenoso no macho e o que seria uma relação se transforma em tragédia.
Nos outros animais há muitas estranhezas também quando os desejos sexuais afloram e o apetite faz com que percam totalmente suas medidas de precaução. Até na selva, perante os bichos selvagens, essa busca pelo outro se reveste de atratividades perigosas e de traições amorosamente premeditadas ou ao acaso do jogo do prazer.
Nem tudo são as mil maravilhas por lá. Verdade é que há bicho que tem o acasalamento como último ato de sua vida. Morre ao namorar, namora para morrer, é traído pela armadilha do outro, se encanta tanto com o prazer da entrega que nem se dá conta do ferrão injetado, da venenosa mordida, do instinto assassino da parceria.
Certas espécies de aranhas morrem depois do sexo. Na fúria sexual, após o prazer, o órgão reprodutor da aranha macho pode se desprender quando tirado rapidamente de dentro da fêmea, o que lhe causa extrema fraqueza e morte pela perda excessiva de líquido correspondente ao sangue.
As estranhezas não param por aí. Como se observa no texto “10 rituais estranhos de acasalamento animal”, disponível no site Insoonia.com (http://www.insoonia.com/10-rituais-estranhos-de-acasalamento-animal/), a coisa pega fogo mesmo, e até com vítimas fatais. E diz o seguinte:
“Os chimpanzés pigmeus são uma espécie que se caracteriza por serem obcecados com o sexo. Para eles, acasalar-se é uma forma saudável de resolver problemas e celebrar quando encontram comida. Também participam de práticas homossexuais e orgias. O louva-a-deus fêmea costuma morder e comer a cabeça de seu parceiro durante a relação sexual, já que isto ajuda à entrega de esperma e incrementa suas possibilidades de conceber. Os ratos-marsupiais-australianos também são um pouco perversos. Uma vez que chega a temporada de acasalamento, estas pequenas criaturas se esmeram em encontrar parceiros e podem passar até 12 horas fazendo sexo. Ao final da temporada morrem. Para as girafas, sobretudo os machos, é um desafio acasalar-se devido a seu grande tamanho. Para saber se a fêmea está no cio, ele golpeará suas ancas a espera de que ela urine. Se isto ocorrer e a urina tiver um cheiro característico, então começará a cortejá-la. As lesmas da banana distinguem-se por ter um pênis que mede entre 15 e 20 centímetros, um tamanho impressionante se levarmos em conta que seu corpo mede praticamente o mesmo. Estes animais são hermafroditas. Para poder fecundar, devem escolher um parceiro do mesmo tamanho, caso contrário seu pênis ficará atolado durante o ato sexual e seu parceiro terá que arrancá-lo. Conhecida como Thamnophis sirtalis infernalis ou serpente garter, a fêmea desta espécie exala um feromônio que atrai centenas de machos para que se acasalem com ela. Até 100 serpentes macho participam nestas orgias. Os caracois são hermafroditas e seus genitais estão localizados próximos aos pescoços, bem atrás de seus olhos. Antes de que dois caracoles se acasalem, lançam “dardos de amor”, feitos de cálcio, o que permite armazenar mais espermas em seus úteros. Os casais do Amazona Albifrons ou papagaio da cara branca são muito românticos e se beijam muito durante o acasalamento. O curioso é que para dar um tempero a mais na relação e acender o fogo da paixão, vomitam dentro da boca do outro”.
Pelos exemplos citados, logo se depreende que a dança do cio, do acasalamento, da afloração sexual, pode não ser apenas um estado de receptividade amorosa com consequencias positivas, relaxantes, confortantes. A aranha, por exemplo, ao fim do ato sexual não poderá acender um cigarro nem se virar sorridente de lado para descansar. Vai morrer.
O cio, pois, não é somente o apetite sexual dos animais em determinadas épocas ou o desejo sexual intenso das fêmeas no período da fertilidade, cuja excitabilidade e alterações comportamentais despertam a excitação dos machos. É também a época de tornar o prazer em arma poderosamente fatal. E não se poderia duvidar que a aranha já estivesse pensando em injetar veneno no macho bem antes do apetite todo chegar.
Mesmo que o cio não seja conceito plenamente aplicado aos seres humanos - ainda que muitos não passem de verdadeiros mamíferos -, verdade que é no reino mundano onde ele melhor se caracteriza. E diferentemente do que ocorre com o período de fertilidade nos bichos, nas pessoas isso é o que menos importa. A fome é extrema, a disposição tremenda, a volúpia parecendo insaciável.
Se os homens tivessem as cabeças arrancadas ou veneno injetado pelas fêmeas, e se com isso morressem ou ficassem com visíveis seqüelas, certamente seria um problema grave e difícil de resolver. Mas não menos grave do que os desejos sexuais incontroláveis, a luxúria e a pecaminosidade que aumentam cada vez mais, e não há contínuo festim de acasalamento que seja suficiente e se baste.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com  

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