*Rangel Alves da Costa
O sexo é belo e divinal, tanto se apregoa.
Para o ser humano sim, que não sai sem pedaços depois do prazer ou não se finda
depois do gozo. A não ser por perversão, o ato sexual é tão belo quanto
inspirador. Muito diferente do que ocorre com outras espécies de animais.
Passando a exemplificar. Quando estão com
desejo sexual intenso, saindo de suas tocas em busca de acasalamento, ainda
assim os escorpiões agem com extremo cuidado diante da parceria encontrada.
Avistam-se, se querem, se buscam, mas num repente a fêmea pode injetar seu
ferrão venenoso no macho e o que seria uma relação se transforma em tragédia.
Nos outros animais há muitas estranhezas
também quando os desejos sexuais afloram e o apetite faz com que percam totalmente
suas medidas de precaução. Até na selva, perante os bichos selvagens, essa
busca pelo outro se reveste de atratividades perigosas e de traições
amorosamente premeditadas ou ao acaso do jogo do prazer.
Nem tudo são as mil maravilhas por lá. Verdade
é que há bicho que tem o acasalamento como último ato de sua vida. Morre ao
namorar, namora para morrer, é traído pela armadilha do outro, se encanta tanto
com o prazer da entrega que nem se dá conta do ferrão injetado, da venenosa
mordida, do instinto assassino da parceria.
Certas espécies de aranhas morrem depois do
sexo. Na fúria sexual, após o prazer, o órgão reprodutor da aranha macho pode
se desprender quando tirado rapidamente de dentro da fêmea, o que lhe causa
extrema fraqueza e morte pela perda excessiva de líquido correspondente ao
sangue.
As estranhezas não param por aí. Como se
observa no texto “10 rituais estranhos de acasalamento animal”, disponível no
site Insoonia.com (http://www.insoonia.com/10-rituais-estranhos-de-acasalamento-animal/),
a coisa pega fogo mesmo, e até com vítimas fatais. E diz o seguinte:
“Os chimpanzés pigmeus são uma espécie que se
caracteriza por serem obcecados com o sexo. Para eles, acasalar-se é uma forma
saudável de resolver problemas e celebrar quando encontram comida. Também
participam de práticas homossexuais e orgias. O louva-a-deus fêmea costuma
morder e comer a cabeça de seu parceiro durante a relação sexual, já que isto
ajuda à entrega de esperma e incrementa suas possibilidades de conceber. Os
ratos-marsupiais-australianos também são um pouco perversos. Uma vez que chega
a temporada de acasalamento, estas pequenas criaturas se esmeram em encontrar
parceiros e podem passar até 12 horas fazendo sexo. Ao final da temporada
morrem. Para as girafas, sobretudo os machos, é um desafio acasalar-se devido a
seu grande tamanho. Para saber se a fêmea está no cio, ele golpeará suas ancas
a espera de que ela urine. Se isto ocorrer e a urina tiver um cheiro
característico, então começará a cortejá-la. As lesmas da banana distinguem-se
por ter um pênis que mede entre 15 e 20 centímetros, um tamanho impressionante
se levarmos em conta que seu corpo mede praticamente o mesmo. Estes animais são
hermafroditas. Para poder fecundar, devem escolher um parceiro do mesmo
tamanho, caso contrário seu pênis ficará atolado durante o ato sexual e seu
parceiro terá que arrancá-lo. Conhecida como Thamnophis sirtalis infernalis ou serpente garter, a fêmea desta espécie exala um feromônio que atrai
centenas de machos para que se acasalem com ela. Até 100 serpentes macho
participam nestas orgias. Os
caracois são hermafroditas e seus genitais estão localizados próximos aos
pescoços, bem atrás de seus olhos. Antes de que dois caracoles se acasalem,
lançam “dardos de amor”, feitos de cálcio, o que permite armazenar mais
espermas em seus úteros. Os casais do Amazona
Albifrons ou papagaio da cara branca são muito românticos e se beijam muito
durante o acasalamento. O curioso é que para dar um tempero a mais na relação e
acender o fogo da paixão, vomitam dentro da boca do outro”.
Pelos exemplos citados, logo se depreende que
a dança do cio, do acasalamento, da afloração sexual, pode não ser apenas um
estado de receptividade amorosa com consequencias positivas, relaxantes,
confortantes. A aranha, por exemplo, ao fim do ato sexual não poderá acender um
cigarro nem se virar sorridente de lado para descansar. Vai morrer.
O cio, pois, não é somente o apetite sexual
dos animais em determinadas épocas ou o desejo sexual intenso das fêmeas no
período da fertilidade, cuja excitabilidade e alterações comportamentais despertam
a excitação dos machos. É também a época de tornar o prazer em arma
poderosamente fatal. E não se poderia duvidar que a aranha já estivesse
pensando em injetar veneno no macho bem antes do apetite todo chegar.
Mesmo que o cio não seja conceito plenamente
aplicado aos seres humanos - ainda que muitos não passem de verdadeiros
mamíferos -, verdade que é no reino mundano onde ele melhor se caracteriza. E
diferentemente do que ocorre com o período de fertilidade nos bichos, nas
pessoas isso é o que menos importa. A fome é extrema, a disposição tremenda, a
volúpia parecendo insaciável.
Se os homens tivessem as cabeças arrancadas
ou veneno injetado pelas fêmeas, e se com isso morressem ou ficassem com visíveis
seqüelas, certamente seria um problema grave e difícil de resolver. Mas não
menos grave do que os desejos sexuais incontroláveis, a luxúria e a
pecaminosidade que aumentam cada vez mais, e não há contínuo festim de
acasalamento que seja suficiente e se baste.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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