*Rangel Alves da Costa
O tempo, o tempo, o tempo... Desarvorado,
inimigo, impiedoso tempo. Cruel, dilacerante, insensível tempo. Tempo ventania,
tempo vendaval, tempo tempestade, tempo muito mais. Algoz, bárbaro, tempo tão
hostil. Passa, passa e passa. Corre, corre e corre. Desembesta e já se foi. A
ilusão do relógio, a ilusão da data, a quimera do calendário, a fantasia da
lentidão, do compassado compasso. Mentira. Oh mentiroso tempo! És açoite, és
voo torturante, és raio de fogo e dor! Que pressa é essa oh tempo? Por que a
correria, o açodamento, a afobação? Por que esse tufão no seu passo, esse
tornado na sua sola, esse redemoinho sobre o teu ser que é e já não mais. Será
que nunca pode esperar a vida, será que nunca pode deixar viver um pouco mais?
Que destino te espera, que compromisso te chama, o que te espera adiante, oh
impiedoso tempo? Sai correndo e deixa a porta aberta. Sai apressado e vai deixando
tudo em velharia. Atrás de si apenas os espelhos, os retratos, os álbuns, as
saudades, as recordações. E as marcas, os lanhos, os rasgões, os retalhos
soltos. E os dolorosos momentos de se avistar no espelho e mais uma vez se
perguntar: tempo, tempo, o que fizeste de mim?
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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