SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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terça-feira, 1 de maio de 2018

Palavra Solta - dores do tempo



*Rangel Alves da Costa


O tempo, o tempo, o tempo... Desarvorado, inimigo, impiedoso tempo. Cruel, dilacerante, insensível tempo. Tempo ventania, tempo vendaval, tempo tempestade, tempo muito mais. Algoz, bárbaro, tempo tão hostil. Passa, passa e passa. Corre, corre e corre. Desembesta e já se foi. A ilusão do relógio, a ilusão da data, a quimera do calendário, a fantasia da lentidão, do compassado compasso. Mentira. Oh mentiroso tempo! És açoite, és voo torturante, és raio de fogo e dor! Que pressa é essa oh tempo? Por que a correria, o açodamento, a afobação? Por que esse tufão no seu passo, esse tornado na sua sola, esse redemoinho sobre o teu ser que é e já não mais. Será que nunca pode esperar a vida, será que nunca pode deixar viver um pouco mais? Que destino te espera, que compromisso te chama, o que te espera adiante, oh impiedoso tempo? Sai correndo e deixa a porta aberta. Sai apressado e vai deixando tudo em velharia. Atrás de si apenas os espelhos, os retratos, os álbuns, as saudades, as recordações. E as marcas, os lanhos, os rasgões, os retalhos soltos. E os dolorosos momentos de se avistar no espelho e mais uma vez se perguntar: tempo, tempo, o que fizeste de mim?


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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