*Rangel Alves da Costa
“Da janela lateral do quarto de dormir...”,
canta Beto Guedes. Parece até letra expressando a vida interiorana e suas
janelas abertas desde o amanhecer. Todo casa sertaneja sempre tem uma janela
aberta e com serventia até para o inimaginável. Ali a vizinha proseia com a
outra, o compadre cumprimenta o outro que passa, a quartinha é colocada para
refrescar a água, o tabuleiro de cocada é colocado aos olhos dos caminhantes.
Como dizia a Velha Zuzu, se janela falasse ia ser a maior fofoqueira do mundo.
Já Tia Zulmira sentenciava que não há nada mais triste que uma janela fechada
dia após dia, noite após noite. É como se a morte tivesse vindo arrebatar
aquele olhar curioso e aquela voz impensada. Do lado de dentro, pelas frestas,
a solteirona suspira perante a passagem de qualquer macho. Quem dera, quem me
dera, diz ela entre suspiros avioletados. É no umbral da janela que a mocinha
sempre espera seu príncipe encanto ao entardecer. Quando fecha a janela,
chorosa se lança nos panos da cama. Depois sente como se alguém estivesse
batendo a madeira, querendo entrar pela janela. Mas nada não. Apenas a ilusão
do impossível amor. Lá fora apenas a lua brilhando na noite.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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