SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 4 de maio de 2018

Palavra Solta – da janela



*Rangel Alves da Costa


“Da janela lateral do quarto de dormir...”, canta Beto Guedes. Parece até letra expressando a vida interiorana e suas janelas abertas desde o amanhecer. Todo casa sertaneja sempre tem uma janela aberta e com serventia até para o inimaginável. Ali a vizinha proseia com a outra, o compadre cumprimenta o outro que passa, a quartinha é colocada para refrescar a água, o tabuleiro de cocada é colocado aos olhos dos caminhantes. Como dizia a Velha Zuzu, se janela falasse ia ser a maior fofoqueira do mundo. Já Tia Zulmira sentenciava que não há nada mais triste que uma janela fechada dia após dia, noite após noite. É como se a morte tivesse vindo arrebatar aquele olhar curioso e aquela voz impensada. Do lado de dentro, pelas frestas, a solteirona suspira perante a passagem de qualquer macho. Quem dera, quem me dera, diz ela entre suspiros avioletados. É no umbral da janela que a mocinha sempre espera seu príncipe encanto ao entardecer. Quando fecha a janela, chorosa se lança nos panos da cama. Depois sente como se alguém estivesse batendo a madeira, querendo entrar pela janela. Mas nada não. Apenas a ilusão do impossível amor. Lá fora apenas a lua brilhando na noite.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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