SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 27 de abril de 2017

Palavra Solta - entre saudades e ventanias


*Rangel Alves da Costa


Existem instantes do dia que são moldados ao sofrimento, à tristeza, às saudades e recordações. Igualmente a feições do dia que são tomados de angústias, melancolias, dolorosos silêncios. Depois do entardecer, a chuva caindo sempre faz despertar sentimentos aflitivos e angustiantes. O próprio pôr do sol sempre se ilumina carregado de pincéis tormentosos. É que o espírito e alma de repente renascem passados, retratos, memórias, recordações. Do mesmo modo quando o sol já vai mudando de cor e seu vermelho-alaranjado vai formando retratos nos céus. São como velas acesas por um Deus que reabre os baús da memória. Perante as paisagens belas, apenas olhares entristecidos, corações pulsantes, folhagens que se desprendem dos galhos em leve adeus. E nas ventanias do entardecer, debaixo ou redor dos pés de paus de copas largas, em meio a zunidos da natureza, as lembranças presentes numa cadeira de balanço que apenas dança. Noutros tempos, nos idos da vida, ali repousava a velha senhora com suas lembranças. De seus olhos caíam lágrimas e de sua boca um silêncio trêmulo, muito mais forte que o grito. Mas nada mais resta senão a cadeira de balanço que se embala sozinha, entre saudades e ventanias. Nada mais resta senão as tardes com suas canções antigas, que chegam com as ventanias e vão sumindo com as últimas cinzas do sol.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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