*Rangel Alves da Costa
Existem barragens, tanques e açudes, que
nunca secam. Por estarem localizados em regiões chuvosas ou recebendo água de
outros leitos, sempre são avistados cheios. Não há mudança climática ou estação
que os faça esvaziar de formar barro no fundo. Situação muito diferente da
ocorrida na região nordestina, principalmente no contexto sertanejo do polígono
das secas.
Pelos sertões, o sempre costumeiro são as
fontes com pouca água ou totalmente vazias, secas, na lama. Como as cheias
dependem das chuvas, e estas nem sempre caem em quantidade suficiente para
escorrer e juntar líquido nos açudes, tanques e barragens, a visão mais comum é
da falta d’água por todo lugar. Falta d’água para o bicho, o homem, o peixe. Quando
muito, apenas um restante lamacento que vai se tornando barro a cada dia de sol
mais forte.
Sem que haja canalização diretamente dos rios
ou dos serviços de abastecimento, é quase impossível que algum reservatório se
mantenha cheio por muito tempo na região sertaneja. E causa estranheza – senão
suspeita – toda vez que um tanque ou barragem seja sempre encontrado volumoso,
com água garantida para os que dela dependam na sobrevivência. Então logo se
diz que foi construído por cima de um minadouro ou que algum encanamento faça o
trabalho das chuvas.
Contudo, desafiando toda a lógica do meio
árido e geralmente seco, há uma barragem no sertão sergipano que sempre é
avistada larga, grande, cheia, volumosa de canto a outro. Mesmo estando
localizada na região mais seca do estado, onde as estiagens costumam durar três
a quatro anos seguidos, e onde os demais reservatórios de água comumente são
avistados em barro petrificado, ali a situação é espantosamente diferente. Para
muitos leigos, talvez um mistério não revelado da natureza.
Localizada ao lado da povoação de Sítios
Novos, no município de Poço Redondo, distante cerca de quinze quilômetros da
sede municipal, a barragem é conhecida por jamais secar, mesmo nos períodos
mais secos na região. Ano após ano, mesmo que tudo ao redor esteja cinzento e
esturricado, que não reste mais nenhum pingo d’água nos reservatórios
sertanejos, ali nunca se modifica: água em abundância, profunda, para o banho e
para a coleta, para a criação de peixes e até para servir como lar de graças
brancas e outros avoantes que por ali costumam ser avistados.
Em meio à sequidão sertaneja, ao barro
rachado no fundo dos tanques, encontrar uma barragem que nunca seca é algo
realmente espantoso. Ao indagar sobre as possíveis causas dessa permanência de
águas, as explicações são as mais diversas e contrastantes possíveis, mas
nenhuma que diga que aquelas águas são realmente de chuva, ou das chuvas
passadas que ali acumularam em grande quantidade.
Ora, se fosse pelas chuvas passadas,
logicamente que os demais reservatórios da região se manteriam do mesmo jeito,
mesmo que alguns tanques e barragens possuam menor possibilidade de sustentação
das águas acumuladas. Mas enquanto as outras já se tornaram de barro nos
fundos, aquela barragem continuam sempre pujante, viva, cheia. Uns dizem que é
por causa das águas que escorrem das residências e ali ficam depositadas.
Outros dizem que ela surgiu por cima de um minadouro que nunca deixa de verter.
Já outros dizem apenas ser um mistério inexplicável.
A verdade é que a barragem continua cheia
mesmo no atual período de seca grande e duradoura. Quem passa pela rodovia ao
lado, não raro pode avistar atém mesmo carros-pipa fazendo coleta de água. E
também as garças brancas por cima das pedras grandes ao meio. E dentre os
mistérios há ainda um que de vez em quando é relembrado. E este diz respeito a
um monstro que é avistado emergindo das águas no breu da noite ou mesmo debaixo
da lua grande. Assim como um monstro no Lago Ness sertanejo.
Como ali é residência desse monstro, então a
barragem nunca pode secar. Por isso mesmo que toda noite seres encantados
trazem torneiras enormes para despejar mais água. Mais e mais, de modo que
nunca seque e deixe o monstro à mostra ou correndo risco de morte. As lendas,
contudo, não desmitificam a verdade: a barragem continua cheia perante os olhos
de todos. Tudo seco e rachado pelo sertão. Mas ela continua cheia.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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