*Rangel Alves da Costa
Já pensou se a moda pega? Já imaginaram as
igrejas com seus sinos silenciados pelo fato de alguns se sentirem incomodados
com suas badaladas? Já pensaram que situação, o padre ou fiéis em pé na porta e
gritando esbaforidos para chamar devotos à missa ou outros ofícios religiosos?
Já imaginaram a valia daqueles sinos trabalhasomente colocados lá em cima, nas
torres, ante a imposição do silêncio total? Mas é assim que já está acontecendo
em Sergipe.
Em cidades interioranas de Sergipe, por
decisão de alguns moradores através de abaixo-assinados, recentemente duas
igrejas foram proibidas de tocar seus sinos. Moradores incomodados com o bradar
rotineiro, então cuidaram em providenciar manifestos escritos e proibiram de
que a voz secular das igrejas ecoasse pelos ares.
Assim o noticiário: “Os párocos de duas
igrejas católicas localizadas no interior do Estado de Sergipe estão proibidos
de tocar o sino. Primeiro foi a igreja matriz de Santo Antonio de Itabaiana,
depois a de Nossa Senhora da Glória. Reclamações de moradores provocaram o
silêncio dos sinos”.
Tanto na Igreja de Santo Antônio e Almas, de
Itabaiana, na região agreste sergipana, como na Igreja Nova, de Nossa Senhora
da Glória, na região sertaneja do estado, a justificativa apresentada por
alguns moradores foi de que o badalar dos sinos estava incomodando demais. Sentindo-se
incomodados, então logo passaram folha de mão em mão, colhendo assinaturas, no
intuito de silenciar voz e chamados tão importantes ao mundo religioso.
Os sinos tocam, bradam, ecoam, não para
incomodar ninguém. Pelo contrário, retinem como se fosse a voz do próprio
templo religioso. Os sinos anunciam os ofícios religiosos, os sinos informam a
população sobre acontecimentos especiais, os sinos são como gritos de despedida
quando do falecimento de alguém. Os sinos despertam corações e almas, pois
ecoam os chamados à fé e à devoção. Como diria o sábio, uma cidade de sinos
emudecidos é como a voz dos anjos forçadamente calada.
Contudo, os sinos sergipanos emudeceram. Fatos
recentes, que ainda provocam irresignação de muitos que não concordam com o
alardeado barulho e pregam o retorno dos tão conhecidos toques, mas que, na
verdade, não passam de exercícios desregrados e absurdos por parte de alguns
moradores. Igrejas antigas, certamente estabelecidas nos locais muito antes de
tais moradores, não podem ter seus sacros rituais ameaçados ou proibidos por
alguns insatisfeitos, ou mesmo cultuadores de outras religiões.
Por falar em barulho em igreja, nada fácil é
a situação de quem mora nas proximidades de um templo evangélico com seus
pastores aos berros dia e noite. Aí sim, deveria ser proibido que após as dez
da noite tais pastores continuassem incomodando a vizinhança. Mas não vejo nada
de errado que as igrejas católicas façam bradar seus sinos nas horas
costumeiras. Não há nada mais singelo e sublime que um bradar de sinos na hora
da Ave Maria. Assemelha-se a um chamado à oração, à prece, ao encontro com o
oratório, ao diálogo com santos e anjos. Perante a fé, o ecoar de sinos possui
uma simbologia sem igual.
Que os sinos voltem a dobrar alegre e
festivamente, ou mesmo na tristeza da ocasião, por simplesmente serem vozes não
direcionadas aos ouvidos, mas ao profundo da alma, ao âmago espiritual.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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