*Rangel Alves da Costa
Na cidadezinha todo mundo sabia e comentava –
menos o marido logicamente – da fama mal afamada da mulher. Vivia de boca em
boca nos piores dizeres, nas piores assertivas, em comentários mais espicaçados
que aqueles comumente proferidos contra as frequentadoras da casa da luz
vermelha. Mas a má fama da mulher tava dum jeito que até o padre já tencionando
em chamá-la à atenção nos ajoelhamentos do confessionário. Temia, porém, que
ela abrisse a boca para dizer a verdade e todo o templo sagrado ficar
profanado. Pelas ruas, esquinas, janelas e portas, contudo, os assuntos não
eram outros. Uma dizia: “Vixe que muié mais gaiteira da gota, uma fia da égua
que faz o coitado do marido trabaiá cada vez mais pra ela putiá cada vez mais”.
Já outra assevera: “Nem puta é mais safada que aquela zinha. Muié que abre a
janela pra homem entrar deveria tá era nos cabaré, e não se dizeno dona de
casa”. E ainda outra, que não media palavras e conceitos: “Puta, quenga,
rampeira, xibiuzuda, tudo se pode dizer daquela rabuda desavergonhada. Aquilo
num era nem pra dizer que é casada. Cuma já se viu uma casada que abre as perna
pra qualquer um?”. Mas tais pessoas, quase todas das vizinhanças, teriam
motivos para tais afirmações? Ninguém sabe ao certo, pois coisas desse tipo,
envolvendo traição e raparigagem, dificilmente são comprovadas, principalmente
pelo marido corneado. Aliás, o traído nunca vê nada. Quando vê, releva por
amor. Quando ouve, diz que é tudo mentira, aleivosia. E sendo sempre o último a
saber, muitos até não querem nem saber. Quando sabem, não acreditam. Quando se
torna impossível não acreditar, então preferem se acostumar. Por amor, tudo por
amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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