*Rangel Alves da Costa
De vez em
quando, eu ainda tenho certeza que há um bichão debaixo da cama. E com você
acontece também. E um bichão igual aquele que no passado servia de meio para
que a criança fechasse os olhos e logo dormisse. Vovô, mamãe, titia ou qualquer
um adulto, não encontrava um remédio mais eficaz para que a criança logo
pegasse no sono. “Se não dormir logo o bichão sai debaixo da cama e pega
criança teimosa”. “Ou dorme logo ou chamo o bichão da bocona e da unhona”. Sem
falar naquelas cantigas de ninar que mais pareciam assombrações: “Dorme
neném...”. E durma senão a cuca vem pegar, a bruxa má vem engolir, o bichão
papão vem abocanhar criancinha. Que coisa mais terrível! Mas era assim mesmo.
Hoje eu tenho certeza que o bichão ainda está debaixo da cama e continua
querendo assustar. Mas coitado do bicho papão. Juro que tenho pena dele. O
danado ficou ainda mais feioso, cresceu ainda mais as unhas e está com dentes
maiores e mais afiados, mas não consegue assustar. E não consegue mais por que
outros medos sobem em cima da cama, avançam, querem roubar toda paz. Um bichão
papão chamado saudade, saudade, saudade! E que coisa terrivelmente assustadora
é sentir saudade de um impossível amor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário