SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Palavra Solta - o silêncio e a escrita


*Rangel Alves da Costa


Não há escrita sem silêncio. Ou o escritor se impõe ao silêncio ou o grito do mundo atravessa o sentido de sua escrita. Há de se compreender que a escrita tem voz, que grita, que esbraveja, que é pura algazarra. Contudo, nasce silenciosa, apenas balbuciante, sussurradamente, como uma doce palavra de amor ao ouvido. Deve o escritor buscar o silêncio e a solidão. Necessita estar alheio ao mundo para fazer brotar um mundo novo, uma Macondo, um Santana do São Francisco, um Mundaréu. Deve estar distante de tudo para dar vida e sentimentos a tantos que sairão da escrita ao mundo. Que bom que o vento avance e sacoleje a cortina da janela. Que bom se a folha seca passar adiante da vidraça ao lado. Que bom se o açoite da ventania traga zunidos e lamentos. E com a brisa e o sol em poente, apenas o mundo tão necessário ao escritor no seu ato máximo de gozo e prazer, no orgásmico instante de fruição de seu monástico ofício. Daí que quero ter o silêncio agora. Daí que preciso de solidão. Não para mim, mas para criar o mundo que brota em pensamento.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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