SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Palavra Solta - ainda choro a dor de ontem


*Rangel Alves da Costa


Ontem, com a notícia da tragédia envolvendo a Chapecoense e integrantes do jornalismo esportivo, a reação foi de indescritível espanto, sofrimento e tristeza. Tudo tão absurdamente espantoso que redundou numa espécie de anestesia ante o acontecido. Ora, acreditava mas não podia acreditar, lia o noticiário mas não queria ter nada daquilo como verdade, a cada homenagem avistada na angústia e no tormento era como o enfrentamento de uma pesarosa fantasia. Mas amanheceu e o anestésico acabou seu efeito, a realidade não mais adormece ou viva se entorpece na ilusão de pesadelo terrível. Eis que tudo verdade. Eis que o voo e a despedida, eis que a viagem e o não retorno, eis que o adeus distante do seu gramado e de sua torcida, eis que o silêncio longe de seu ouvinte e de seu admirador. Agora, sem anestesia, sem mais condições de esconder os estímulos dolorosos, é como se a navalha do real ferisse sem piedade. Tudo realmente acontecido, tudo verdade. Não mais o idílio, apenas o luto. Não mais a descrença, apenas o enfrentamento da dor. E por isso mesmo - e muito mais - ainda choro a dor de ontem. Ainda - e muito mais - espanto-me com a fragilidade de vida, para encontrar forças somente para dizer: Filhos, nunca fostes tão vencedores, pois alcançastes agora a eterna vitória!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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