SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 21 de julho de 2020

Palavra Solta – cadernos



*Rangel Alves da Costa


Dos meus cadernos surgem rabiscos inesperados, sublimes, agonizantes. Assim, assim: Chego na beirada do pote e o barro antigo, lanhada de tempo e sede, sempre me ensina alguma coisa. Chego perante a cancela do velho casebre e os restos toscos e encardidos daquele mundo, ecoam a me chamar para conhecer suas entranhas. Olho ao redor, no beiral da estrada tomado de jurubeba em flor, então sinto vontade de ficar um pouco mais para uma prosa de olhar, mas sei que tenho de seguir. E vou...  A cada passo um encontro que faz valer o sacrifício de tanto andar. Casas, casebres, moradias fincadas no barro e cipó. Aió e embornal pelos cantos, candeeiro de parede e oratório de fé, tudo me ensina. Enxada e enxadecos, foice e gadanho, retalhos de chão e história, de luta pela sobrevivência e retratos do mundo-sertão. Sou moço do mato, sou da cidade não. Nem quero ser. O batente ainda manchado do sangue da luta, o tronco alquebrado mais adiante, o esquecido baú com suas saudades guardadas, tudo isso me ensina. E também me ensina a palavra matuta, a mão calejada, a face marcada de tempo. Olhares fundos e profundos, testemunhos de tudo aquilo que tanto eu quero ouvir, saber e conhecer.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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