SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 17 de setembro de 2019

A CASA DA POBREZA



*Rangel Alves da Costa


Na noite do último sábado 14 de setembro, em Poço Redondo, sertão sergipano, o amigo Lucas Santana (filho de Nanan) enviou-me uma mensagem relatando um caso lastimável. Disse-me que havia encontrado, nos arredores da saída da cidade em direção a Curralinho, uma situação de moradia que imaginava não existir em Poço Redondo. Falou-me sobre a inexistência de telhado e de portas, sobre a pobreza absoluta naquela casinha, sobre o viver em abandono que aquele morador tinha de suportar. Prontamente informei que logo ao alvorecer do domingo iríamos até lá. E assim aconteceu.
Pouco mais das sete da manhã, eu, Lucas e Belarmino, já estávamos naquela direção. Depois da Praça Frei Damião, seguimos mais adiante e logo avistamos a moradia, como se escondida entre os fundos de outras moradias e outras ruazinhas do outro lado. Quem olha para os fundos da casinha é como se estivesse avistando sua frente. A não ser por uma janela, é quase a mesma coisa. Rodeamos e fomos em direção à sua frente. 3 metros de frente e fundo por 6 de comprimento, eis a sua dimensão. Levantada em bloco, com uma janelinha à frente e duas portas igualmente estreitas, uma na frente e outro ao fundo.
Chegamos, batemos palma, chamamos, mas nada como resposta. A única presença foi a de um cachorro que surgia do pedaço de lona na porta para latir uma valentia inexistente. Sua presença ali tinha razão de ser. Como a casinha não possuía portas, quando o seu dono saía a única proteção ficava por conta daquele cachorro e seu latido rosnento. Mas proteger o que naquela moradia, se o que pode ser encontrado lá dentro faz apenas entristecer e chorar?
Chamamos, chamamos, e nada. Logo fomos informados por dois senhores que estavam pelos arredores que talvez ele tivesse saído muito cedo, tendo ido para a feira de Santa Rosa do Ermírio em busca de qualquer ganha-pão engraxando sapatos, ofício que também exercia pelas ruas e principalmente nos dias de feira na cidade de Poço Redondo, e até em Canindé de São Francisco. E ficamos sabendo do seu nome: André Luiz. E também que é irmão de Mané Veneno.
Sua ausência nos impediu de conhecer mais sobre sua história, suas necessidades, sua real situação. Após o retorno, então escrevi um pequeno texto onde relatei: “Visitando uma casa sem telhado, sem porta na frente e ao fundo, sem móveis, quase sem nada. Fica ali bem ao lado da Estrada Histórica Antônio Conselheiro, no caminho de Curralinho. Apenas um fogo de chão do lado de fora e duas panelas velhas num canto de chão. A cobertura é com pedaço de lona segurada em blocos, como se a moradia estivesse ao relento na noite e no dia, no sol e na chuva. Uma situação de vida em Poço Redondo. Ou de quase viver em Poço Redondo! Mas depois relatarei tal feição de abandono e de extrema pobreza”.
Com efeito, uma extrema feição de abandono e de extrema pobreza. Com o retorno posterior de Lucas ao local e o encontro com o senhor André, as fotografias comprovaram tudo aquilo infelizmente imaginado. Uma cama com colchão desengonçado, uma banquinha com panelas encardidas e o que existe de alimentação, um bacia num canto, roupas no encosto da cama, e apenas isso. Piso de chão, pedaço de lona como telhado, e um cão... E só. E acaso ele esteja deitado e os blocos que prendem a lona se soltarem, pela força do vento ou das chuvas, então o pior poderá acontecer.
Por isso mesmo que André Luiz precisa de ajuda. Quem pode ajudar André Luiz? Você pode, nos podemos. Precisamos de alimentos, de dois sacos de cimento, de cerca de oitocentas telhas, algumas vigas. E também de um velho fogão, vez que seu alimento é preparado em fogo de chão num canto da frente da casa. Talvez também um guarda-roupa ou qualquer coisa que lhe sirva de mobiliário. E que luxo será!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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