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domingo, 10 de abril de 2011

CANÇÃO CHEIA DE SAUDADES (Crônica)

CANÇÃO CHEIA DE SAUDADES

Rangel Alves da Costa*


Não possuo nem toco nenhum instrumento musical. Minha música vem da tarde; minha canção vem do vento, chega passeando na brisa; minha melodia tem o acorde do teu olhar, do teu semblante moreno, do teu leve sorriso a ninar sóis e estrelas.
Sem piano, violino, flauta, violão, sem nenhum pontilhado que se eleve aos ares, ainda assim canto uma canção cheia de saudades, que parte dessa montanha onde estou e vai cortando essas cores de fim do dia, vai entrando nas nuvens, vai voando, vai se misturando ao próprio horizonte.
E tanta saudade há que uma tarde inteira, entrando na noite e no madrugar, não daria conta de tanto pensar no vivido e no que poderia ser feito, nos nossos momentos e naqueles que não pudemos transformar em convívio e realização. Mas de tudo realizado, se o amor não foi plenamente amado, ao menos teve a força de ser inesquecível e de provocar tantas relembranças.
Como esquecer o beijo, de qualquer beijo, dentre todos os beijos; como não lembrar os abraços, e todos os abraços em todos os amassos; como não recordar dos toques, em cada um com todos os retoques; como esquecer o calor, do corpo chama em vapor; como ignorar a tristeza porque o aceno se despedia, o passo seguia e depois uma esquina, como se tudo tão perto fosse infinitamente distante.
Não posso esquecer meu amor, nada disso poderá ser esquecido porque as tardes surgem iguais na mesma saudade, essa montanha traz as lembranças de sempre, e eu sou sempre o mesmo a sorrir e a sofrer, a silenciar e cantar, a inventar poesias atmosféricas e, num sopro, fazê-las seguir em sua direção.
Minha mão se ergue no ar, tateia ao redor, desce a montanha a te procurar. Onde está agora, meu amor? Venha, siga o meu passo, esqueça dessa sombra que às vezes não sou eu, e caminhe na pressa de chegar a qualquer lugar onde tenha pouso e repouso, que quero dar de beber, matar qualquer fome, deitar você no meu colo e ninar carícias preguiçosas neste teu veludo de jambo na pele.
Adormeça meu amor. Durma que sonhar é bom, é viajar na minha presença, pois ainda estarei ao teu lado apreciando a vida em minhas mãos. Como és bela, assim adormecida, de olhos tão inocentemente fechados, como se fosse criança sem nenhuma preocupação. Quem dera também adormecer agora e sonhar o mesmo sonho de nós dois, duas crianças correndo pela vida, de mãos dadas, de corações atados.
Meu passo desce a montanha e vai te procurar, vai seguir os grãos que ficaram espalhados pela estrada como no conto de fadas. Não fuja de mim, meu amor, não se esconda, não vá embora, pois há um final feliz para ser vivido. Todos devem saber que fomos felizes para sempre. Assim está escrito, no livro das nossas vidas e em todos os livros que guardam um final feliz para o amor.
Mas enquanto minha mão não parte e meu passo não segue, e tudo porque há sempre a esperança de te avistar ao longe, vindo, chegando, gritando que vai ficar, é que canto esse canto de saudade e de relembranças, uma canção que é grito no pensamento e que ecoa pelos quatro cantos para você ouvir chegando ou onde estiver:
“Minha companheira que está assim
Em outra montanha a pensar em mim
Chega de cantar esse canto triste
Trazer alegria pois o amor existe
Estamos separados nesse lado a lado
Podendo voar no coração alado
Então venha voando que já vou num salto
Elevar o amor ao seu posto mais alto”.





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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