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terça-feira, 12 de abril de 2011

MULHERES FEIAS, ESQUISITAS, RIDÍCULAS... (Crônica)

MULHERES FEIAS, ESQUISITAS, RIDÍCULAS...

Rangel Alves da Costa*


Certas mulheres têm uma mania ridícula de quebrar todos os espelhos que possuem nos seus quartos de dormir. Sem dúvidas que é para não se olharem ao natural, com a verdadeira feição que possuem ao acordar. E com razão, pois muitas delas se assustariam com o que encontram antes que se encharquem de produtos e outras magias mumificantes.
O problema se agrava quando, além de não aceitarem de jeito nenhum a velhice que chega, querem fazer de conta que possuem bem menos idade ou até que são verdadeiras adolescentes. Aí tudo vira bagaceira mesmo porque cada atitude, vestimenta ou modismo que se apegam sem ter como viverem aquela realidade, as torna pateticamente ridículas.
Outro dia avistei na capa da Caras uma chamada dizendo que determinada atriz global continuava jovem aos 68 anos. E o photoshop de corpo inteiro mostrava a senhora do destino feliz pelo centésimo relacionamento com um rapaz 41 anos mais novo. Tenha santa paciência! É preciso que as pessoas se enxerguem, sejam menos vaidosas, aceitem a velhice como algo normal e não como algo que deva também ser maquiado.
Ora, não falo aqui do espírito jovial que deve acompanhar a pessoa até no seu crepúsculo de vida, na sua força inabalável para enfrentar e vencer desafios, no seu eterno encorajamento para as situações mais difíceis da vida. Contudo, força de vontade e obsessão para se manter bem fisicamente é muito diferente de querer forçar a barra e esconder a todo custo um fio de cabelo branco que nasça.
No curso do envelhecimento, que é a cada dia desde o nascimento, a pessoa deve ao menos aprender que chegará um dia de se olhar no espelho e dizer que aquelas rugas não estão ali por acaso, que os cabelos brancos não surgiram de uma hora para outra, que o cansaço na pele e no olhar não é apenas evento passageiro, coisa de uma noite maldormida ou de indisposição.
Porque muitos querem a experiência da idade, porém não aceitam a chegada da velhice, é que verdadeiros absurdos se propagam diante dessas senhoras que querem, a todo custo, continuar adolescentes, cocotinhas, freneticamente esfuziantes como uma descompromissada.
E chegam ao ridículo de se encherem de botox, plásticas e outros procedimentos cirúrgicos, que de tanto puxar e esticar, encher ali e esvaziar aqui, aos poucos vão transformando essas senhoras em pessoas irreconhecíveis, inchadas, monstruosas, com cada sorriso ou gesto facial parecendo que o rosto vai se desfazer todinho.
O pior é que fazem isso no corpo inteiro, não lembrando que a vitalidade e o rejuvenescimento sempre se dão internamente, orgânica e espiritualmente, e não retirando meio mundo de pelanca e colocando no seu lugar qualquer estrutura sintética. É por isso mesmo que muitas vão à praia ou às academias mostrar a rigidez nas pernas ou no bumbum, mas não podem se agachar até o chão, não podem mover os músculos com maior velocidade, não têm agilidade alguma.
Se lhes faz bem, então continuem fazendo, contudo continuo achando muito feio que pessoas que já alcançaram determinada idade, principalmente acima dos sessenta anos, insistam com os mesmos hábitos, costumes e modismos dos jovens. Tudo tem o seu tempo, como diz a sábia lição. E tudo tem o seu limite, como diz a outra.
Adolescentes existem que são muito mais comedidas do que algumas verdadeiras barangas que se pintam de arco-íris, colocam roupas curtíssimas ou justas demais, se emperiquitam toda e depois, reluzindo feito noite enluarada, ainda querem sentar nos barzinhos, como quem não querem nada, para ficar flertando com os rapazinhos que passam. Não aceitam de jeito nenhum tomar o chá das cinco com a bondosa anciã.
Com jeito difícil que só – pois respeito é bom e eu gosto, pois tenho idade de ser sua mãe, como alegam em descabida defesa – até bancam os espertalhões somente para viverem iludidas. E depois começam a espalhar dentre as amigas, como forma de provocar ciúmes, que ainda não entregou os pontos de jeito nenhum, que estão amando e beijando muito. Mas só Deus sabe a que custo.
Não sei o prazer que causa ou a beleza que tem alguém viver com os olhos repuxados por força de uma plástica, ou entortar a boca quando sorri ou a testa subir para o meio da cabeça por força de tanto puxar para cima e para os lados a pele do rosto. Tem uma apresentadora matinal que anda parecendo um robozinho de tanta puxação pelo bumbum e pernas. Nitidamente não pode mais caminhar com normalidade. Agora me respondam: isso é bonito, saudável e necessário, ou é feio, triste, ridículo?
Não estou mandando ninguém ir sentar em sua cadeira de balanço antes do tempo, mas também deveriam ao menos respeitar um pouco mais a idade que têm, o corpo original que possuem e a beleza de serem belas ainda que com cabelos brancos e rugas pelo rosto.
Verdade é que ou se respeitam ou se aceitam como a idade permite que sejam ou passarão a ser tema de preocupação até para os ecologistas. Um corpo devastado pela própria ação do seu dono, e que se mostra agora totalmente degradado pelas intermináveis e errôneas tentativas de preservação.





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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