UM BALAIO DE COISAS BOAS
Rangel Alves da Costa*
Do mato cipó trançado, tudo bonitinho trabalhado, tramando sem dar um nó, numa lindeza que só, para fazer um balaio, um cesto de amor maior.
No mais puro artesanato, cheirando a pureza e mato, me sinto feliz com o que vejo, pois o meu maior desejo é dar o mais lindo presente ao amor que nem pressente.
E penso no que vou colocar para os olhos encantar, para o coração afagar e o sorriso alegrar, e daria tudo na vida se soubesse que a satisfação no peito dela tem guarida e na minha esperança atrevida ao menos a luz prometida.
Não sei do que mais gosta meu amor, uma cor, outro sabor, uma fruta madura, uma seda mais que pura, uma rosa, um verso em prosa, um jardim, tudo enfim, mas talvez lhe dê a manhã ou uma bíblia cristã, talvez uma tarde sem noite, talvez o vento sem o açoite.
Muito mais estou pensando em dar, como as montanhas e o mar, bons sonhos para o acordar, uma valsa vienense para bailar, uma poesia de amor que virá. Talvez prefira o sol, da manhã o arrebol, nos campos o girassol, o peixe sem o anzol.
Dizem que quem ama muito oferece o que não tem, de tudo vai mais além, promete o que lhe convém, mas com o balaio à mão não tem o que colocar, procura sem nada encontrar, vê-se sem nada pra doar, começa o coração magoar.
Por isso sou mais pacato, humilde no meu recato, não dou comida sem prato nem faço da promessa relato. Se há promessa a cumprir, nada pode impedir desse trato existir, pois já tenho o que vou dar e isso posso aumentar se o meu amor mais desejar.
Não tenho nenhuma riqueza, nada brilhando na mesa, fartura nem sobremesa. O que tenho pra sobrar dinheiro não vai comprar, nada pode igualar ao gesto de afeição, de pegar a flor na mão e presentear com devoção.
Tenho sim muita riqueza, gesto maior de nobreza, ação de maior gentileza. Dentro mim mora um rei, de qual reinado não sei, desse poder que me dei de doar que tanto sei. Doar a simplicidade, doar tudo sem maldade, doar todo amor que me invade se o retorno for verdade.
Sei que não espera receber uma joia preciosa, a casa mais grandiosa, a roupa mais que formosa. Seu jeito simples de ser já diz o que quer receber, bastando que seja colhido no coração, encontrado no fértil chão, nascido sem ilusão.
Enfim, te darei uma ostra e um vento, um verso de puro alento, uma brisa de mar com gaivota a voar, uma tarde inteirinha e uma vida todinha no bosque a passear, colhendo fruta no pé, saltitando onde quiser, na vida de pura fé.
Enfim, te darei uma imagem talhada no pinho, um lápis e um caderninho, um diadame de flores, um cordel de mil amores, um araçá bem amarelo, de couro cru um chinelo, um passarinho na mão e voando, uma canção pra cantar beijando.
Enfim, te darei água de fonte, um lindo belo horizonte, uma ponte, uma estrada, um reisado e uma cavalhada, uma roda de criançada, uma viola de noite enluarada. Sei que gosta e vou dar o canto do sabiá, o som da cachoeira a jorrar, um banho no riomar.
Enfim, te darei uma pulseira de cigano, um cartão de fim de ano, de chita um pedaço de pano. Tenho um anel de madeira, um jarro de aroeira, bugigangas compradas na feira, mas tudo tão lindo e bonito, que se não fosse pra te dar meu coração ficava aflito.
Enfim, te darei um buquê de primavera, um sonho mais que quimera, a orquídea que prolifera, minha vida te dar quem dera. Quem dera você aceitar de presente o meu amar, do meu peito esse cantar, da esperança o alcançar.
Ah, ainda não dei tudo não, pois escondi uma porção de presente para um dia, o dia da maior alegria, o dia de você dizer que se enfeite de sonhos e me presenteie com você. E nesse dia apagarei a luz para o presente do amor que nos conduz.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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