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quarta-feira, 13 de abril de 2011

O QUE VOCÊ FAZ EM SEGREDO (Crônica)

O QUE VOCÊ FAZ EM SEGREDO

Rangel Alves da Costa*


Calma. Porque você faz muitas coisas em segredo, no escondidinho, não significa que o seu pudor, sua honra e sua integridade moral vão ser abalados. De jeito nenhum. Lamentável seria omitir a si mesmo suas vontades, desejos, aptidões e recaídas.
Desde o pensamento até o esconderijo mais inacessível, seus segredos esperam somente os momentos certos ou mais adequados para se revelarem. Como diz a máxima que quem vê cara não vê coração e quem vê a pessoa não enxerga o seu íntimo, então nada precisa temer senão o arrependimento pelo segredo que vai dispor para se satisfazer.
Mas de antemão revelo que os seus segredos nada têm a ver com sua sexualidade, tendências ou opções. O seu sexo, o seu jeito de pensar e usar a sexualidade só depende de você mesmo, não cabendo a ninguém ao menos imaginar sobre os seus segredos escondidos ou não.
Até mesmo porque não existe uma só pessoa que não guarde no seu íntimo um segredo acerca dessa motivação corporal. Quando o corpo se nega a fazer, os olhos cansam de tanto trabalhar e a imaginação se aviva mais do que o circo dos prazeres.
E não adianta benzimento porque, na seara sexual, o pecado não vem só da ação, mas também da imaginação. Até a inação, quando se torna ação de outro modo, dizem que também é pecado.
Mas deixando o erotismo de lado, muitas outras coisas você faz em segredo que o mundo inteiro precisa saber. E precisa porque surgindo as revelações, que são verdadeiramente bombásticas até que cheguem ao conhecimento, todos terão a certeza de que não há nada estarrecedor naquilo que foi revelado com estardalhaço. Ora, se são segredos que todo mundo guarda, então não podem causar tantos impactos assim.
Seja como for, você não pode negar que de vez em quando vai para o lugar mais escondido da casa e transforma as lembranças e saudades em lágrimas e aflições. Alguém no passado que qualquer coisa trouxe a recordação, um momento vivido num instante relembrado, uma vontade danada de ver, de reencontrar, de dizer tudo aquilo que não pôde ou ainda não foi dito.
E quantas vezes, sem que os outros percebam, você sai abrindo gavetas, armários, portas as mais escondidas, em busca de velhas cartas, amareladas fotografias, poesias em papel de pão, um souvenir, um pequeno objeto que tanto marcou sua vida? E aquelas tardes vermelho-alaranjadas, o banco da praça, o vendedor de maçã de amor, a chuva caindo, a água batendo na janela, essa lua, esse vento que sopra o nome no ouvido, faz você lembrar o que e de quem?
Você não pode negar que quando sai pelas ruas e olha as vitrines com as roupas, os sapatos e as bolsas da moda, lembra do que tem e do que anda vestindo e se sente pobre, excluída socialmente, com uma vontade danada de poder entrar em cada loja que quisesse e escolher aquilo que mais satisfizesse o seu ego consumista. Como não pode, o cartão nunca cabe comprar mais nada, se enraivece, maldiz a situação na vida e até dá vontade de chorar.
Sabe que está adoentada, o médico prescreveu meio mundo de medicamentos e dietas, e por isso não pode comer nada salgado nem muito doce, não pode nem chegar perto de comida oleosa e de frituras. Mas mesmo assim, sem que ninguém perceba, se esbalda, vive beliscando as panelas, abrindo a geladeira e sempre pra o proibido, correndo perigo porque comer é uma das coisas que mais lhe dá satisfação na vida.
Sei que tem vontade de mandar pro espaço, pro beleléu ou pra outras profundezas muita gente que finge ter amizade e por trás, e até na frente mesmo, vive denegrindo sua honra e imagem, dizendo que você não presta e não vale nada, espalhando as mais deslavadas mentiras a seu respeito. Contudo, nada disso se compara com o que você sabe sobre elas e ainda assim silencia porque respeita o próximo. E talvez este seja o seu maior segredo.
No demais, seria bom que você e o seu par, companheiro no amor e na vida, ao fechar a porta do quarto revelassem, mesmo sem abrir a boca, os segredos do que tanto querem experimentar na relação e sempre ficou dentro do corpo feito vulcão, prestes a explodir.





Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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