SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Palavra Solta - viola em noite enluarada



*Rangel Alves da Costa


Aqui na cidade, aqui entre prédios acinzentados e ruas feias, eu fico imaginando as coisas que acontecem no meu sertão. Sertanejo eu sou, e lá das distâncias matutas do mundo e onde estão espalhados casebres, casinhas de barro, porteiras, cancelas, malhadas e currais de poucos rebanhos. Lá onde Seu João pinica fumo de rolo e Dona Maria debulha feijão de corda. A galinha cisca ao redor, o fogão de lenha vai espalhando um cheiro de toucinho pelo ar. O papagaio tenta repetir tudo, mas a idade só lhe permite dizer “É a vida, é a vida...”. E nas noites, nos noturnos matutos de céu estrelado e lua grande querendo dourar toda a vida, então os compadres se juntam pelos alpendres, no meio do tempo ou debaixo dos pés de pau, para que o proseado faça relembrar a existência e a viola de pinho ecoe um cancioneiro que faça doer bem lá dentro do coração. Cururu, cateretê, guarânia, rancheado, toda a plangência autenticamente sertaneja a se misturar com as vozes da noite, as canções do vento e os sons melodiosos que somente o sertão possui.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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