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terça-feira, 1 de março de 2011

CULPAS E ARREPENDIMENTOS (Crônica)

CULPAS E ARREPENDIMENTOS

Rangel Alves da Costa*


Cometido o erro, reconhecida a culpa, muitas vezes tanto faz o arrependimento ou não. O mal já está feito, a dor já foi causada, e somente ao que sofreu as injustas consequencias caberá o perdão.
Quando o mal é cometido por vontade deliberada de prejudicar, de afligir os sentimentos, de causar um dano profundo no sentir do outro, não há perdão que possa apagar de vez o insano ato.
Se a atitude errônea foi no sentido de causar um aborrecimento momentâneo ou passageiro, ainda assim os rastros do erro não serão apagados tão facilmente como deseje o causador, pois basta uma simples faísca para reacender a chama que adormece escondida e que desta vez perdurará por toda vida.
O dano causado certamente que não possui consequencias imediatas a serem sentidas pelo causador, pois somente quando o outro não é atingido na proporção desejada, é que todo o refluxo se retrai com tamanha força que o arrependimento será muito mais dolorido do que se o ato tivesse atingido o alvo.
O sofrimento imposto a alguém por ódio, raiva ou vingança, ainda que circunstâncias momentâneas predisponham o agente para o cometimento do ato, tanto pior será para o causador, vez que aquele que foi atingido será curado, que foi atacado será protegido, e o outro dificilmente poderá ser ver livres de seus próprios fantasmas.
O veneno lançado na ponta de uma lança pode não encontrar seu destino e voltar às mãos do arremessador; o nome jogado injustamente na lama não faz poça d’água onde há solidez, mas o causador da injúria ou infâmia poderá escorregar e cair todas as vezes que passar no local; o que se faz com a intenção somente de destruir certamente destruirá mais facilmente quem já está tão fraco e pequeno para agir assim.
Mas o que é culpa e o que arrependimento? Culpa nada mais é do que a responsabilidade atribuída a algo ou alguém por mal, dano ou prejuízo causado; é a consequencia de se ter feito o que não se devia fazer; é a ação ou omissão de que resulte dano ou prejuízo. E já se aproximando do conceito de arrependimento, é o sentimento insistente e doloroso que alguém experimenta por ter agido mal ou faltado com um dever.
Por sua o vez, o arrependimento pode ser visto como um remorso por um mal cometido; a contrição sincera pelo dano ou mal injustamente causado a outrem; lamento ou pesar por alguma coisa feita ou dita ou não feita ou não dita; percepção e sensibilização das consequencias ruins que seus atos causaram para outra ou outras pessoas, causando-lhe uma tristeza verdadeira pelo dano injustamente causado. O arrependimento pode ser ainda considerado como a dor sentida por causa da dor causada.
Diante de tais considerações, urge indagar: A ofensa injusta deverá ser perdoada se o ofensor demonstrar sincero arrependimento? O arrependimento e o perdão possuem o poder de fazer esquecer de vez o ocorrido? Aquele que se arrepende e promete não mais cometer uma atitude danosa deverá ter a mesma consideração de antes? Aquele que foi injustamente ofendido realmente esquece? Flores, declarações de carinho e afeto, presentes e outras melodias de encantamento fazem o mal ser esquecido?
Não haveria uma resposta que satisfizesse unanimente as indagações acima, pois tudo estará na dependência, vontade e pudor daquele que se sentiu, ou não, mais ou menos, ofendido. E isto porque não é raro que o levantar da cortina disso tudo revele o que se costuma chamar de vitimização. Assim, a pessoa procura, por todos os meios, ser objeto da ofensa do outro, para depois dar uma de vítima indefesa e começar a impor um jogo nojento e inescrupuloso.
Nas coisas do amor também é assim. Aquele que ama demais ou está apaixonado tenderá sempre a ferir o outro por qualquer coisa, seja ciúme ou obsessão. Age mais impensadamente do que por vontade própria, mas sempre no sentido de colocar sob redoma aquilo que acha que lhe pertence acima de tudo.
Muitas vezes, ciente disso, o lado que se reconhece querido demais, negligencia o amor e os anseios do outro e dá vazão ao surgimento de todos os males possíveis. Nesse caso, haverá culpa de quem? E o arrependimento posterior caberá a quem?
Em todo caso, é sempre melhor se sentir culpado pela omissão do que pela ação. No primeiro caso, o arrependimento é bom, pois refletirá numa ação futura; enquanto que no segundo caso dependerá das circunstâncias e do dano causado, pois o arrependimento muitas vezes não apaga nem o dano nem o sofrimento causado pela ofensa.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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