ONDE ANDA VOCÊ?
Rangel Alves da Costa*
Estou com saudades, e porque nostalgicamente meu coração se entristece, tenho de perguntar:
Onde anda você, menina da janela, que ao anoitecer se encantava com a serenata de lua e estrela?
Onde anda você, flor majestosa e perfumada colhida ao amanhecer no jardim, mais tarde seguindo acompanhada de um bilhetinho às mãos de outra morena flor?
Onde anda você, poema de rima qualquer, cartinhas em versos, tudo rimando com amor infinito por aquela mulher?
Onde anda você, trem de partida, trem de chegada, com famílias na estação, de olhos chorosos, de lenços nas mãos, com o apito afligindo o esperançoso coração?
Onde anda você, tarde no parque, caminhada no jardim, folhas ao vento, brisa soprando saudade nas pessoas vivendo o seu entardecer?
Onde anda você, meu chapéu, meu terno de linho branco, minha bengala imponente, o café da esquina, o menino anunciando a manchete do jornal, o bonde na rua, o trilho do ontem que partiu sem destino?
Onde anda você, carta de muitos selos, telegrama de parabéns, ramalhete de flores chegando, uma faixa no meio da rua dizendo parabéns que você é feliz?
Onde anda você, cadeiras nas calçadas, senhoras sentadas nas suas cadeiras de balanço ao entardecer nas ruas humanas e com pessoas que passavam e cumprimentam, dando boa tarde e desejando saúde e boa sorte?
Onde anda você, minha viola caipira, meu boiadeiro errante, meu pé de ipê, minha chalana que vai partir, a poeira da estrada sertaneja, o amanhecer no sertão, o velho violeiro que dedilha sua paz e sua natureza?
Onde anda você, meu radinho de pilha, minhas notícias de hora em hora, meu horóscopo, minha receita do dia, minha canção de amor, minha carta que o locutor ajudou alguém a chorar?
Onde anda você, minha feirinha de interior, minha banca de cordel, a moça do sarapatel, a moça das frutas e outra que não quis ler minha mão para não revelar que me amava e que eu era o seu amor?
Onde anda você, sessão de cinema dos sábados à tarde, matinês domingueiros, o filme de faroeste que é o maior sucesso, a história dos apaixonados que preferem se matar por amor, o filme que todo molecote ia ver escondido dos pais?
Onde anda você, palavras doces, palavras bonitas, palavras de amor, de agradecimento, de carinho, de obediência, de consideração, de afeição, de respeito e de paixão?
Onde anda você, “eu te amo”, “eu te quero”, “não consigo te esquecer”, “você me completa”, “estou com saudades”, “guarde este retratinho”, “você é linda”, “um beijo na boca e outro no coração”?
Onde anda você, meiguice, simplicidade, humildade, pureza, seriedade, sinceridade, confiança, respeito, consideração?
Onde anda você, menina bonita que alegrava o meu olhar todos os dias, que me fazia ser poeta e apaixonado, que me fazia ficar esperando o relógio da igreja marcar as seis horas para ver você retornar sempre dengosa e faceira?
Onde anda você, minha infância, minha criancice, minha adolescência, minha juventude, meus tantos e doces erros, meus incorretos acertos, minhas esperanças que foram se perdendo pelo caminho?
Onde anda você, meu amor, onde anda você?
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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