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quarta-feira, 9 de março de 2011

A SOLIDÃO AMOROSA (Crônica)

A SOLIDÃO AMOROSA

Rangel Alves da Costa*


A cada dia me sinto mais convencido de que o ser humano nasceu para viver num estágio de solidão e que somente por um erro ou fatalidade a união amorosa entre pessoas se tornou fato normal e corriqueiro na sociedade.
E isto, em primeiro lugar, porque o amor simplesmente não existe entre pessoas que de repente pensam haver nascidas umas para as outras. O que se vê em casos assim é que os indivíduos momentaneamente saem de seu estágio de solidão para conviver com o outro por um certo período.
Por determinado período até que a pessoa sinta que não nasceu para conviver eternamente ao lado de outra, vez que o que passa a existir nessa relação é apenas uma suportabilidade, um mecanismo de adequação ao outro e não a contínua construção do amor.
E isto porque o amor entre os casais não passa de uma atração, de um despertar para o prazer, de um desejo intenso que vai se retraindo até chegar ao patamar de reconhecimento de que se pode viver muito bem sem que seja ao lado daquela pessoa.
Uma situação poderia ilustrar tal constatação. De repente passa um jovem casal de mãos dadas, com sorriso nos lábios, dialogando alegremente e trocando carícias a cada passo. Conheceram-se praticamente ontem e já passaram a perceber que nasceram um para o outro. E mais tarde entrarão na igreja para ouvir o padre dizer que serão felizes para sempre e até que a morte os separe.
No dia seguinte ao casamento cada um começa a mostrar a sua realidade comportamental. Enquanto casal não mais se ama, apenas convivem; enquanto pessoas, não sentem mais aquele desejo de passear de mãos dadas, dos beijos em todos os lugares, das intensas trocas de carícias; enquanto pessoas normais começam os ciúmes, as brigas, as discussões, as mútuas acusações. Passam dias sem se falar e cada um faz de conta que nem vê o outro.
Chega o momento que se torna insuportável tal convivência, não há mais diálogo que chegue a qualquer consenso e os dois começam a reconhecer que não há mais amor. E que amor era esse que acaba assim, que passa a mostrar sua fragilidade logo quando estão sob o mesmo teto? Que amor é esse que de repente se reconhece inexistente, como se estivesse o tempo todo apenas aparentemente entre os dois?
Ora, simplesmente porque nunca houve nem haverá qualquer tipo de amor. O amor não existe entre casais, senão o que querem na medida da busca de qualquer prazer. Se houvesse qualquer sombra ou resquício de amor, respeito ou mútua compreensão, não haveria tantas separações e divórcios extremamente desgastantes, onde cada ex-amor que ver o outro destruído, verdadeiramente no fundo do poço.
Por isso é que a solidão amorosa se impõe como a única realidade que pode tornar as pessoas, ao mesmo tempo, senhoras de si mesmas e compartilhando o amor momentâneo que queira ter. O que seria, então, essa solidão amorosa, que pretende substituir as próprias relações afetivas?
A solidão amorosa seria a compreensão que a pessoa passa a ter que é melhor não oficializar nenhuma relação, vez que o verdadeiro amor é da pessoa para si mesma; seria a fruição da solidão planejada em detrimento a relações aventureiras e desnecessárias; seria viver na realidade a máxima que diz ser melhor estar sozinho do que mal acompanhado.
Isto não significa, contudo, que a pessoa vá passar o resto da vida se amando egoisticamente ou fazendo prevalecer sempre o seu lado narcisista. A pessoa amará sim, normalmente e buscando do amor todas as suas virtudes e prazeres, porém consciente de que ao invés da entrega total e absoluta, o que deverá prevalecer é a medida do que se quer ter do amor.
Em outras palavras, amar sim, mas apenas amar e tendo a consciência de que o amor é momento e não promessa de eternidade.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

2 comentários:

Anônimo disse...
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Kenny Rosa disse...

Muito interessante. Arrisco a dizer que o problema não é a existência ou não do amor e sim a presença marcante do egoísmo dentro do coração humano.
Abraços e até a próxima palavra.
Kenny Rora (http://cronicandocomvoce.blogspot.com)