O PASSO SEGUINTE
Rangel Alves da Costa*
O passo a ser dado é uma das coisas mais significativas na vida de uma pessoa, ainda que esta nem sempre esteja atenta para tal fato.
É a partir do instante que se ergue o pé para dar o passo que se expressa o próprio destino. A pessoa já nasceu predestinada para dar esse passo? Tal passo é necessário que seja dado? Será que é o momento certo para ir em frente? Por que não voltar atrás? O passo dado poderá ser refeito? Quais as conseqüências do passo dado?
Em pé, estática num determinado lugar, a pessoa está numa fronteira entre o atrás e o que está à frente. Mesmo para voltar atrás e não seguir mais em frente como o planejado, a força do passo dado para voltar terá a mesma força daquele que seria para seguir em frente.
E por quê? Ora, o destino está no retorno e no seguir em frente. Se o destino da pessoa não era para caminhar em frente, mas apenas voltar pela mesma estrada é porque algo intervém para que essa escolha seja feita.
Voltar pela estrada já percorrida não é algo que se faz em vão. O mero esquecimento de alguma coisa em cima de uma mesa é motivo para se retornar, e nesse ato de retorno é que se satisfaz o destino.
É quando afirmam que ainda bem que não seguiu em frente, pois mais adiante bandidos estavam na beira da estrada saqueando todo mundo, uma ponte desabou ou uma árvore cairia naquele exato instante em que a pessoa estivesse passando.
Ao retornar para buscar o objeto esquecido, eis que encontra à porta alguém que não via há muito tempo, chegando cansada de uma longa viagem; vai lembrar que ia ficar muito tempo distante da casa e havia esquecido de deixar comida para o cachorro ou para o papagaio.
Contudo, se a decisão for mesmo de dar o passo, ainda assim uma série de fatores deve ser observada. A distância entre o chão de onde o pé se levanta até a sola do sapato é distante demais, mesmo que muitos achem que não é coisa de mais de um palmo. Pode acreditar, mas é a distância da sorte, a distância da felicidade ou da infelicidade.
O vácuo que se forma entre o chão e o pé é o vazio onde cabe tudo. Todo o futuro do homem mora nesse vazio que será preenchido um pouco mais adiante, quando o pé se assenta de novo com o passo já dado. Assim, nessa erguer o pé para curvá-lo adiante e perfazer o passo tudo pode acontecer, pois o destino está em cada movimento.
Ora, o pé estava firme num lugar e por um motivo ou outro teve que ser erguido para dar lugar ao passo. E esta pessoa saberá se o passo dado alcançará realmente o seu propósito ou terá a certeza que nada do que está adiante é o que realmente se deseja ter?
Quem ergue o pé e vai atravessar a rua nem sempre alcança o outro lado; quem ergue o pé para entrar num carro ou num avião não sabe se vai assentá-lo novamente no destino desejado; quem ergue o pé para chutar a bola não sabe se vai marcar o gol ou quebrar a vidraça; quem pula não sabe se vai cair firme; quem coloca o pé adiante da porta não sabe se vai retornar um dia.
Muitas vezes, coisas muito simples não são alcançadas por causa do erro no passo dado. Tem gente que nem sabe dar o primeiro passo e já quer dar vários passos ao mesmo tempo; outros tropeçam porque querem dar o passo com os dois pés a um só instante. Conheço gente que só anda pulando que é pra ver se alcança tudo mais rápido, mas sempre cai mais desastradamente.
Se o pé falasse seria muito mais útil do que a boca, e disso não há como duvidar. Se falasse, o pé bem que poderia dizer ao seu dono que talvez ainda não fosse tempo de dar aquele passo, que estava cedo demais, que era impensado. Se falasse poderia dizer que estava pronto pra seguir, mas que andasse com cuidado se realmente quisesse chegar.
Tudo isso serve também para aqueles que, por qualquer motivo, não podem mais caminhar. O pensamento também é passo que se deve dar com cuidado.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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