*Rangel Alves da Costa
Instantes no campo, nos afastados da cidade. Aí
e ao redor, apenas um silêncio envelhecido. Não tanta mudez assim. A ventania
sopra, a folhagem farfalha, um bicho de mato faz barulho entre os tufos
catingueiros. Já não há mais cheiro de café torrado, batido em pilão e coado na
velha arupemba. Não há cheiro do caldo grosso do café se derramando sobre o
braseiro no fogo de chão. Também não há cheiro de cuscuz no fogo nem de tripa
de porco chiando na estaladeira. Mas tudo bem. É um silêncio de paz, de
sabedoria, de memória e reencontro. Não há carro parado com mala aberta e
barulho insuportável de tudo o que não presta. Não há garrafa sendo quebrada
nem ameaças de um ao outro. Não há olhares despertando estranhezas nem os
inimigos invisíveis de cada esquina. Não passa o vergonhoso modismo nem as
perdições da cidade. O carro da polícia não precisa ser chamado nem se ouve a
arrogância do motor da moto. Ao contrário, pois por ali corre um preá, mais
adiante o cachorro faz carreira atrás de qualquer coisa. E, por todo lado, uma
natureza solene e majestosa. Um silêncio cuja voz interior é ouvida em palavras
de agradecimentos.
Escritor
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