*Rangel Alves da Costa
Noutros idos – ou mesmo num passado recente
-, os pais e familiares definiam, pela linha de idade dos filhos, o que lhes
era permitido ou não fazer. Pelo respeito e autoridade familiar, as observações
eram geralmente acatadas.
Assim, a criança não podia exceder em
atitudes que fossem inapropriadas à sua fase de vida. O adolescente deveria
possuir limitações em suas condutas familiares e no convívio com os demais,
principalmente perante outros adolescentes. O jovem igualmente tinha seus laços
estreitados perante diversas práticas.
Mesmo já caminhando para a idade adulta – que
geralmente era tida apenas dos dezoito anos acima -, aquele jovem era
aconselhado a não pular demais a cerca, a ter cuidado com as relações, a ter
máxima atenção com as amizades. Qualquer avanço ou falta de freio nas condutas
e atitudes, tudo já motivava extrema preocupação.
Quando homem, ainda assim os pais tentavam a
todo custo manter uma certa castidade, de modo a não implicar em engravidamento
cedo demais de qualquer donzela, e assim prejudicar todo o seu futuro. Quando
mulher, então as rédeas eram ainda mais encurtadas, vez que a juventude deveria
ser mantida em véu de pureza e de virgindade.
Ademais, a prole, que fosse homem ou mulher,
sempre estava à vista dos pais mais responsáveis e preocupados com o futuro dos
seus. Sair com determinados amigos nem pensar. Estar com namoricos às
escondidas, de jeito nenhum. Usar bebida e droga seria o fim do mundo. Saber a
hora de sair e principalmente de voltar. Dar a benção aos pais e aos mais
velhos e prestar contas de todos os feitos do dia.
Então o pai dizia: Quem anda com gente ruim
só procura o que não presta. Certas amizades são como esgotos abertos esperando
o primeiro passo. Uma amizade ruim é o caminho para o mal, para a violência,
para tudo o que não presta. Não há pessoa de má fama que queira levar alguém
para o bem. Sabe que vai afundar, mas sempre quer afundar o outro primeiro.
E o filho acatava, ou geralmente acatava.
Sabia que sua família prestava atenção a tudo e jamais admitiria que
transgredisse os seus pedidos e suas lições. Igualmente sabia que qualquer
transgressão seria motivo de cobranças e de castigos. Até queria ter mais
liberdade para liberar seus anseios e conhecer novas realidades, mas sabia que
bastaria um passo em falso para perder o afeto familiar.
Então a mãe dizia: Sua idade ainda não é de
namoro nem de paqueras às escondidas. Sua idade é de estudar e de buscar, desde
agora, um caminho seguro na vida. Não há homem que não queira se aproveitar de
sua idade, de sua inocência e de sua fragilidade. Querem usar e abusar e depois
fazer de conta que foi apenas mais uma. Sua idade é de viver, de ser feliz, de
ir criando consciência do que deseja de bom e do melhor para o seu mundo.
E a filha acatava, pois sabia que a mãe
jamais lhe ensinaria o caminho errado. Contudo, aos poucos, com os progressos e
a dita modernidade, as autoridades familiares foram se afrouxando, as relações
entre pais e filhos foram se deteriorando, até chegar ao ponto de viverem como
estranhos dentro do mesmo lar. O filho sai a hora que quer e volta a hora que
quer, faz a amizade que quiser, e tudo como se estivesse perfeitamente bem, na
maior normalidade do mundo.
Mas até o instante em que a corda arrebenta.
E as consequências são terríveis e desastrosas. A perda da autoridade, do senso
de proteção e do afeto familiar, acaba tornando os lares em verdadeiros
redemoinhos de convívio. Por deixarem afrontar demais suas autoridades, muitos
pais sequer possuem poder de exigir nada dos seus.
Hoje em dia, qualquer conselho, qualquer
lição ou qualquer realidade demonstrada pelos fatos, já não cabe na maioria das
relações familiares. Por mais que os pais digam, repitam e insistam onde está o
bem e onde está o mal, os filhos simplesmente ignoram e fazem o que bem
entenderem.
Quer dizer, o livro das boas condutas
simplesmente se tornou impróprio para menores de dezoito anos.
Escritor
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