SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 28 de maio de 2017

Palavra Solta – abraçado ao mandacaru


*Rangel Alves da Costa


A lógica poderia dizer que é impensável abraçar um mandacaru. Ora, o mandacaru é cacto sertanejo espinhento, de espinhos longos, agressivos, pontudos, famintos por pinicação. Gente há que sequer passa por perto de qualquer cacto, e muito menos do mandacaru. Mas não sei por que assim, vez que alongo meus braços e a ele me abraço com gosto, prazer e até devoção, numa desmedida entrega. E assim faço pela alma sertaneja que tenho, pelo sangue sertanejo que há em mim. Ora, em meio a tanto sofrimentos sertões adentro, em meio a tantas secas e estiagens, em meio a tantos sois e gravetos secos, em meio a tanto berro faminto e tanto mugido de desolação, abraçar o mandacaru é como se postar perante um altar de oração. E assim, nesse altar de espinhos e asperezas, pedir às alturas os auxílios de chuva, os auxílios de esperança, os auxílios de paz. E não impossível de ser atendido. O mandacaru tem braços grandes, sempre estendidos em direção ao céu, em diuturna oração. Por isso que vive assim como um candelabro de velas acesas à espera de milagres. Por isso que a ele me abraço na mesma fé.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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