*Rangel Alves da Costa
Não gosto de estar na rua, no meio do povo,
na multidão. Principalmente onde há grande comércio, a rua é feia, é desumana,
é bruta, é arrogante, é barulhenta, é imbecil, é vaidosa, é orgulhosa, é execrável.
Por isso não gosto de rua. Mas não só por isso, mas também por que nunca
encontro velhos amigos, nunca avisto pessoas conhecidas, nunca encontro bancos
e pombos. Além disso, há pessoas gritando ao seu ouvido, oferecendo produtos,
bugigangas, quinquilharias. Há o silêncio na estátua humana. Mas outro dia
derrubaram o homem da neve. Há o pregador de pouco juízo, já completamente
rouco de tanto falar bradar sobre o fim do mundo. Há o pedinte espertalhão e a
vendedora de água mineral da torneira. Não há mais cafés em cafeteiras antigas
de balcão. Não há mais mesas onde se possa tomar um chope ou um suco bom. Não
há mais jornaleiros passando com as notícias do dia nem o vendedor de pirulito
de mel. Não há mais cinema nem cartazes escondendo o filme impróprio para menores
de 18 anos. Certa feita colocaram um cartaz de sexo explícito e mais de duas
pessoas chegaram a desmaiar, coincidentemente duas solteironas. Agora só preço
alto, só carestia e gente olhando o outro com cara feia, como se a rua fosse
para encontrar desafetos e não simplesmente andar. Distante imaginar uma rua
ladeada de árvores ou tendo ao centro canteiros floridos. O povo não deixaria
uma só violeta em pé. É o senso humano da desumanização em todo e por todo
lugar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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