*Rangel Alves da Costa
Durval Rodrigues Rosa foi umas das maiores
expressões da política do sertão sergipano, principalmente em Poço Redondo,
onde o grupo político sob o seu comando saiu vencedor em diversos pleitos
eleitorais, elegendo não só a si mesmo por duas vezes (1963/64 - 1977/1982)
como a seus filhos João Rodrigues Sobrinho, mais conhecido como João de Durval
(1971/72), e Ivan Rodrigues Rosa (1993/1996), além de ter participado
vitoriosamente de outros pleitos.
Seu Durval, como mais conhecido, faleceu aos
83 anos em 28/09/2003, ainda sob o manto da respeitabilidade enquanto forte
liderança política. Poucos sabem, contudo, que o filho de Dona Guilhermina e de
Seu Cândido teve ameaçado até de ser preso quando eleito pela primeira vez em
Poço Redondo. Em plena gestão da administração municipal, e de repente as
transformações políticas ocorridas no Brasil a partir do Golpe Militar de 64 o
atingiram injustamente.
Seu Durval, homem sempre respeitado, de
palavra, de extrema honradez pessoal e política, vitorioso na terceira eleição
realizada no município, teve que ceder ao império arrogante e insensato das
botinas dos generais. Contudo, de modo diferente do que costumeiramente se
comenta, não teve seu mandado cassado pelos generais, e sim renunciou, embora
forçadamente, ao que lhe fora conferido pelo voto popular. Ora, a polícia da
ditadura estava em Poço Redondo pressionando, forçando a essa tomada de
decisão.
Cassado teria sido se a governança municipal
lhe tivesse sido retirada por ato de lei, a partir de ato emanado do governo
militar. Contudo, o que ocorreu foi uma renúncia forçada ao exercício de
prefeito sob pena de ser preso. Ou deixava a governança municipal ou seria
acusado “seja lá do que fosse” e levado à prisão pelos generais. Bem ao modo do
que ocorreu com o governador Seixas Dória e os deputados Baltazar Santos, Viana
de Assis, Cleto Maia e Nivaldo Santos.
Com efeito, a 31 de março de 64 o Brasil
passou ao crivo do regime militar, com a deposição do presidente João Goulart e
a tomada do poder pelos generais. Tinha início o período conhecido “anos de
chumbo” e que perduraria por vinte e um anos, até 1985. A partir daí,
principalmente através do Ato Institucional nº 1 (AI-1, que dava poderes
absolutos ao novo governo revolucionário para cassar os direitos e mandatos
políticos daqueles que não fossem simpatizantes ao regime instalado), iniciou-se
uma série de perseguições políticas em todas as esferas.
Seu Durval havia sido eleito legitimamente no
pleito realizado em 03 de outubro de 1962, tendo como adversários Joaquim
Fernandes de Barros (candidato do então prefeito Eliezer Joaquim de Santana) e
Francisco Néri de Araújo (Chico de Lulu). Eleito pelo PSD, vindo do mesmo grupo
do recém-assassinado Zé de Julião, assumiu os destinos do município a 1º de
janeiro de janeiro de 1963 e o seu mandato deveria durar quatro anos. Contudo,
sua gestão duraria apenas um ano e meio, pois teve de renunciar no dia 12 de
junho de 1964.
Em Sergipe, diversos mandatos foram tomados
“à força”, desde o governador a deputados. Também prefeitos foram depostos,
como Geraldo Maia, de Propriá; Pascoal Nabuco, de Estância; José Figueiredo, de
Capela; José Carlos Torres de Souza, de Neópolis; e Epaminondas Martins, de Amparo
de São Francisco. E no sertão sergipano dois prefeitos não foram depostos,
porém tiveram de renunciar: Durval Rodrigues Rosa, de Poço Redondo; e Francisco
Machado Costa (Chiquinho Lameu), de Canindé de São Francisco.
Verdade é que na noite de 12 de junho de
1964, forças policiais dos generais revolucionários marcaram reunião na Câmara
de Vereadores de Poço Redondo. A polícia da ditadura já sabia o que aconteceria
ainda naquela noite, pois ali estavam exatamente para tratar do novo prefeito
que assumiria os destinos do município. Igualmente sabiam que o prefeito Durval
Rodrigue Rosa logo faria chegar à presidência da câmara sua carta de renúncia.
E assim aconteceu. Totalmente pressionado, ameaçado de prisão se não renunciasse,
seu Durval não teve outra saída. Eleito ainda naquela noite presidente da
câmara, Cândido Luis de Sá, Seu Candinho, ato contínuo se tornou prefeito
municipal, sob as bênçãos dos generais.
Mas por que Seu Durval teve que ceder aos
generais e renunciar ao mandato? Formalmente, ele não havia sido acusado de
subversão à ordem pública ou de propagação de ideias comunistas, então por que
foi forçado a renunciar? Os fatos nunca foram devidamente esclarecidos, pois as
atitudes dos generais nunca eram justificadas com precisão. Intui-se, contudo,
que a conduta política de Seu Durval incomodava o regime. Os generais não
queriam no poder um homem que fazia, ao seu modo, um socialismo sertanejo
através do atendimento às demandas mais populares, e cuja voz destemida, e
sempre ouvida, poderia pregar contra o regime ditatorial em vigência.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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