*Rangel Alves da Costa
Na São
Clemente o testemunho sangrento do desfecho de um dos episódios mais covardes e
cruéis da história do cangaceiro, e tendo como vil e principal protagonista o
cangaceiro Gato. Nascido na região do Raso da Catarina, na Bahia, de
descendência indígena (da tribo pankararé), o futuro cangaceiro foi batizado
com o nome de Santílio Barros. No cangaço teve Inacinha como companheira. Nos
anais do cangaço, ainda hoje é tido como um dos mais violentos e sedentos de
sangue. E isto será demonstrado na triste saga ora relatada.
Conforme
assinalado, o batente de madeira foi trocado por um mais baixo de cimento, mas
a barbaridade cangaceira não pôde ser removida.
Segundo a moradora atual, o batente foi mudado e a madeira guardada por
alguém que deveria ter conhecimento de sua importância história. Ainda não sabe
quem, contudo. Mas os fatos que redundaram em tragédia de inimagináveis
proporções assim aconteceram:
Depois de
se afastar das terras baianas e adentrar em Sergipe, Lampião e seu bando
desmontam dos animais e o chefe manda que as selas e os arreios sejam
escondidos para despistar de possível incursão de volantes na região.
Enterrados debaixo de folhagens tais apetrechos sertanejos, eis que um
rapazinho chamado Temístocles, morador das redondezas (na Fazenda Couro, do
outro lado do riacho que divide Sergipe e Bahia), conhecedor de cada passo e de
cada segredo daquela mataria, estranhou quando avistou aquela suspeita
arrumação de folhagens entremeadas de terra.
O passo
seguinte foi querer saber o que ali estava enterrado, e então encontrou os
pertences cangaceiros. Não só encontrou como foi logo dar conhecimento a seu
genitor do ocorrido. Seu pai, sem saber o que fazer, procurou ajuda perante a
vizinhança, até que um último aconselhamento prevaleceu: o rapaz deveria
desenterrar os objetos e imediatamente levá-los até a presença do delegado de
Serra Negra, na Bahia.
Entretanto,
Totonho, um daqueles que haviam dito que o melhor a ser feito seria levar os
objetos até a delegacia, depois acabou contanto tudo a Lampião. Quando o
Capitão, já furioso, campeia a região em busca de informações sobre o paradeiro
dos apetrechos, então fica sabendo que Temístocles e outro amigo os
desenterraram e foram entregar ao delegado João Batista de Carvalho, que,
aliás, era irmão do Coronel João Maria de Carvalho e do Comandante de Volante
Liberato de Carvalho.
Foi quando
Lampião virou na gota serena, no raio da silibrina. Enfurecido, soltando fogo
pelas ventas, no instante seguinte já estava ordenando o início de uma das
maiores chacinas de inocentes da história sertaneja. O cangaceiro Gato foi o
escolhido para comandar a sangria. Seus companheiros de atrocidades foram
Azulão, Medalha, Cajueiro e Suspeita. Com as ordens recebidas, foram cortando
vereda e dizimando vidas.
Passam na
Fazenda Monte Azul e torturam uma família inteira, levando seu proprietário
como prisioneiro amarrado a um animal. Chegam à Fazenda Santo Antônio e, como
não encontram moradores, então matam animais e destroem o que podem. Despontam
na Fazenda Lagoa do Capim, recolhem dinheiro e levam também prisioneiros o dono
da propriedade e seu filho. Adiante, decidem matar o primeiro prisioneiro que,
exaurido pelo sofrimento, já implorava para ser logo morto. No mesmo instante
matam também o menino a tiro.
Os algozes
seguem caminho levando prisioneiro o pai do garoto assassinado e chegam na
Fazenda Pelada, já levando mais um prisioneiro: Zé Bonitinho, um demente
encontrado na estrada. Na Pelada, todos da família são logo feitos
prisioneiros. Clemente, o patriarca, foi o primeiro a ser morto. Em seguida,
seu filho Doroteu é varado de balas. Aos dois mortos, juntou-se também Alfredo,
o pai do garoto assassinado. Mas a sede de sangue de Gato e seus bestiais
companheiros continua.
Saem da
Pelada em direção à Fazenda São Clemente. Com eles levam Zé Bonitinho e um
filho do assassinado Clemente. Não encontram ninguém na sede da fazenda, pois
todos haviam fugido. Desapontado e querendo mais sangue, então Gato decide que
a hora do doidinho Zé Bonitinho havia chegado. Manda o demente deitar e colocar
a cabeça no batente na porta e avança com o facão. Golpe certeiro, sangue
espargindo por todo lugar. E, por último, o filho de Clemente recebeu sua
sentença de morte.
João de Clemente foi a sétima vítima daquele percurso onde a sanha cangaceiro mostrou o seu lado mais perverso e cruel.
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