*Rangel Alves da Costa
A solidão dói, apavora, faz enlouquecer. Solidão guardada no tempo, escondida no quarto, de porta e janelas fechadas. Solidão de não ter com quem falar e sequer olhar. Solidão de não ter companhia para dividir sua dor nem pedir que traga logo o punhal. Solidão de não ter boca para beijar, de não ter corpo para abraçar, de não ter a nudez do outro para admirar. E amar. Solidão que só pede lembrança, só pede saudade, só pede revivências das ilusões do nada tido. Chove lá fora e os pingos vão descendo pelas frestas da alma. Uma terrível escuridão. A vela acesa apagou sozinha. Não há mais vinho, não há mais uísque, não há uma aguardente sequer. O cálice está logo ali: vazio. Acende a vela e procura o cálice. O veneno vai sendo despejado aos poucos. Surge a repentina decisão de beber, de sorver todo o veneno no cálice despejado. Olha um retrato na parede e chora uma lágrima de despedida. Escreve seu epitáfio num pedaço de papel: Nada além do que nunca fui! Seu olhar se volta para o cálice e sua mão trêmula vai ao seu encontro. Fecha os olhos, coloca as mãos na cabeça, chora. Dá um urro de dor e de agonia. Espantosamente, num salto corre até a janela e a abre com toda a fúria. E mais espantosamente ainda, de lá de cima, do oitavo andar, lança o cálice com o veneno. Mas no instante seguinte lança o seu corpo no ar, com a mão estendida para o nada, e vai espalhando sua solidão entre adeuses molhados.
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