*Rangel Alves da Costa
Muitas vezes, as loucuras e desesperanças do
mundo lá fora não interessam muito. Possuem o dom de afetar sim, de ferir toda
a felicidade, mas a nossa paz interior é tamanha que tanto faz as angústias e
aflições do mundo lá fora.
Acordar e levantar para ser feliz. Uma
decisão do espírito, da alma, do mais profundo do coração. Levantar para as
canções da vida, para as poesias da existência, para os sonetos e as valsas das
grandes conquistas.
Corações aptos a terem assim o seu dia,
certamente não se importarão que a madrugada foi chuvisquenta, que a manhã está
molhada ou que o sol continue escondido detrás dos montes. Tanto faz que as
nuvens continuem encobrindo os caminhos ensolarados do alvorecer.
Corações resolvidos à felicidade não se
importarão que os pássaros ainda não estejam voejando pelo jardim, que as
revoadas passarinheiras ainda não tenham sido avistadas aos horizontes. Não há
tristeza se a flor mais bela não esteja brilhando sob a luz da manhã.
E assim por que corações felizes chamam para
si a felicidade, possuem o dom da transformação, transmudam as cores e os
sentidos da vida. Corações felizes não se deixam afetar pelos pessimismos nem
pelos ventos sombrios que sempre insistem em atormentar.
Corações felizes abrem a janela do quarto sem
tocar os dedos e sentem quando as borboletas chegam esvoaçantes pelos
iluminados espaços. A janela está fechada, mas o desejo de paz e de felicidade
é tamanho que as borboletas chegam emoldurando a doçura da alma.
Nada é impossível ao coração que deseja paz,
que deseja felicidade, que deseja encontrar aquilo que mereça ter. Borboletas
na janela são, assim, as asas coloridas das possibilidades, das grandes
esperanças e dos desejos de realização.
As borboletas na janela são como troféus
depois de vencidos os labirintos escurecidos. Ora, se a pessoa quer encontrar
lama e podridão, certamente encontrará pelo seu desejo. E também assim com as
dores e os sofrimentos, com as desilusões e enfermidades, com as feições mais
negativas da vida.
Mas se a pessoa assim não quiser, não chamar
para si a dor e o sofrimento, certamente encontrará janelas com borboletas, com
buquês de flores, com bilhetes e poesias, com o que de mais maravilhoso possa
existir. E repente avistará jardins pelo piso e pássaros voando no céu sob as
telhas.
O desejo de felicidade possui tamanho poder
que nada se mostra com maior invencibilidade. O querer, a sensação de poder, a
certeza de conseguira, tudo como imbatível escudo, como armas do bem
esfacelando as maldades e os atrasos do mundo.
É preciso ter a certeza que o escudo do
coração é indestrutível perante a hipocrisia, a falsidade, a inveja, a mentira,
a iniquidade. Tal força interior é o que abre janelas para a chegada de borboletas,
para os jardins surgidos sob o piso endurecido, para as revoadas que chegam e
que seguem cantantes.
Um coração alegre e festivo, imensamente
abraçado à felicidade, que não mais entristece ao olhar para as flores velhas e
esbranquiçadas no jarro de plástico sobre a mesa. Ora, não que sofrer, não quer
se afligir. Quer o sol, quer a luz, quer o horizonte. E então avista colibris
beijando favos de mel sobre as flores de plástico.
E então, qual manhã desejada após o seu
acordar? Mas deixe seu coração escolher. Ele pode apenas querer chorar pelo que
de mais triste e desalentador possa encontrar no mundo lá fora, ou pode se
decidir pela felicidade. Tal decisão sempre implica na valorização que cada um
dá a si mesmo e na paz merecida que chama para sua vida.
Dependendo do íntimo desejo de cada um, a
janela se abrirá ou não para a chegada das borboletas, e as flores de plástico
se tornarão vivas e perfumadas, ou não. Borboletas e flores que são, perante o
desejo de cada um, as felicidades da vida ou as angústias da alma.
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