*Rangel Alves da Costa
Espelhar a vida através dos olhos teus. Quem
dera, minha bela amada, que avistasse os olhos meus. Agora entristecidos,
opacos, distantes e sem vida, os olhos meus já foram luz e brilho, já foram
jardim em flor, já foram borboletas e colibris na festa do beijo sobre a
pétala. Mas entristeceram desde que os olhos meus se distanciaram dos olhos
teus. Aquelas tardes eram tão desejadas como o poeta espera pela lua e as
estrelas. Você surgia e ainda ao longe perfumes tomavam os espaços. Um jardim
mulher. Você se aproximava com olhos de mar e gaivotas voejando sobre os
cabelos, e então o meu barco se desnorteava sem saber o que fazer por tanto
amor. Eu queria gritar, eu queria implorar um instante, apenas um segundo para
dizer de todo amor devotado. Mas se silenciava, contentando-me apenas em olhar
e avistar seu jardim florido e seus olhos de mar. Até que um dia você sorrio,
você sorrio pra mim. Até que um dia seu olhar se demorou sobre o meu olhar.
Então eu gritei, mas um grito silencioso e emudecido. Mas eu sei que você ouviu
minha palavra, o meu grito, o meu desejo. Eu sei por que a resposta veio
depois. Já se distanciando, então você beijou na palma da mão e logo arremessou
o seu gesto em minha direção. Eu senti o beijo. E o meu olhar, ávido para te
encontrar, começou a voar, voar, voar... Voo de pássaro triste que ainda ecoa
uma velha canção falando de olhares, desejos, amores...
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