*Rangel Alves da Costa
As casas... Duas casas. O tempo passa, o
tempo esvoaça, e elas continuando ali fincadas em suas raízes. Mas até quando?
No centro da cidade de Poço Redondo, no sertão sergipano, restam apenas estas e
mais umas duas que ainda não foram modificadas, que ainda não tiveram suas fachadas
derrubadas pela ânsia do novo e da frágil beleza. As casas... As duas casas.
Como é bom avistá-las em seus semblantes antigos, em suas feições do passado, e
imaginando quantas imponentes vidas ali viveram. Zé de Lola, Dona Quininha, e
outras e outras. Calçadas velhas onde as cadeiras de balanço embalaram
sertanejos ao entardecer e depois da boca da noite. Uma saudade grande daquele
tacho de cocada branca na janela. Cocada mole, com pedacinhos de coco
espelhados entre a doçura ralada. Difícil passar e não olhar em direção à
janela. Dona Quininha lá dentro, num instante já estava servindo a cocada em
papel de pão. Hoje as janelas quase não são abertas, mas os olhos avançam em
direção aos corredores, às salas, aos quartos, cozinhas e quintais. São os olhos
das saudades, das muitas saudades. Sim, as duas casas ainda estão ali ao redor
da Praça da Matriz, as duas casas permanecem vivas e querendo ser avistadas,
mas também reverenciadas e relembradas no seu passado. Não basta passar pelas
ruas, não basta somente andar pelas calçadas. É preciso admirar o que ainda
resta daquele Poço Redondo mais antigo, mais sertanejo e mais verdadeiro. E
quem passar perante o clima ameno do entardecer, certamente avistará
sentadinha, e quase sempre na silenciosa solidão de seus dias, a nossa querida
Neném. Procure conhecê-la, ler nas páginas de seu livro-vida, pois estará
diante de uma página valorosa da história de Poço Redondo.
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