*Rangel Alves da Costa
Termos acadêmicos existem que servem apenas
para colocar muros onde deveria existir campo aberto. Discriminações,
evidentemente. Ora, o termo escritor, por exemplo. Na verdade, o que é ser um
escritor? Somente aquele que publica livros, ou também aqueles que deixam seus
originais nas gavetas, ou também ainda aqueles que escrevam cartas, bilhetes,
qualquer tipo de escrito? Quem escreve é escritor, e seja de que tipo de
escrita for. Mas não, logo a academia vincula o termo escritor ao livro vai
elegendo seus “gênios”.
Outro termo vazio, sem fundamentação ou
justificativa algum, é o dito “intelectual”. Ora, a intelectualidade vem do
termo intelecto, que é o uso da mente, da razão, do pensamento. E pelo que eu
sei, todo aquele que não possui distúrbio mental faz uso da razão, do
pensamento, do intelecto, e de forma condizente ao seu meio e à necessidade de
uso. Mas não, mais uma vez a academia chega para colocar grades, para separar
os humanos. Por consequência, basta ter qualquer pífia graduação para ser
chamado intelectual, basta ser “doutor” para ser chamado intelectual, basta ser
escritor para ser tido como intelectual.
Mas o pior é que tais intelectuais fabricados
ou impostos pela conveniência, geralmente são tão despreparados que acabam se
tornando nas pessoas mais chatas do mundo. Levando o escudo da intelectualidade
como se fosse qualquer coisa de serventia, e então passam a ser reis, sábios,
mestres, filósofos, os suprassumo do saber e da inteligência.
Tornam-se inacessíveis, intocáveis, sempre
envoltos em redomas douradas. Contudo, não passam de uns boçais, de uns
deseducados, verdadeiros purgantes à vida útil. Achando-se donos da verdade e
possuidores da última resposta a tudo, então sequer parecem gente. E quando
abrem a boca escolhem precisamente ininteligível, o que não pode ser
compreendido, como forma de se fechar ainda mais em sua redoma. Uns idiotas.
Diferentemente do que imaginam os vermes em
seus fajutos pedestais, a verdadeira sabedoria humana é humilde, é
compreensiva, é compartilhada e sempre vai ao encontro do outro, no sentido de
ensinar e também aprender. Quem é verdadeiramente sábio ou quem tem elevado
nível de conhecimento das realidades do mundo, seja no âmbito metafísico ou
cotidiano, sabe muito bem que o saber deve ser visto como algo utilitário e não
como escudo para uma suposta intelectualidade. O verdadeiro sábio é comedido,
paciente, sem soberbas ou jactâncias. O verdadeiro sábio, diferente do dito
“intelectual”, conhece muito bem seus limites do saber, sabe que não sabe tudo.
E por isso mesmo tanto colhe como semeia o conhecimento.
Estes ditos intelectuais são facilmente
reconhecíveis, pois admiram uma mídia para se mostrar. Quando falam, porém,
confundem ao invés de ofertar conhecimento. Todo dia na televisão aparece um
filósofo, um especialista nisso ou naquilo, um mestre sei lá das quantas, um
catedrático do mundo revirado, um acadêmico da tese inexplicável. Nas fotos,
aparece tendo estantes ao fundo, com rostos endeusados e olhares dizendo “fique
lá que eu fico aqui”, com molduras sombreadas e mãos levando pingentes de ouro
à face. As denominações são as mais estapafúrdias, os currículos são
intermináveis. Mas quando abre a boca...
Quantos mundos existem separando os homens
segundo suas hipocrisias? Quantas redomas existem para deixar lá dentro os que
nasceram diferentes virados pra lua e lá fora os simplesmente mortais. E
mortais estes que são os verdadeiros sábios da terra. Mesmo sem estudo escolar
ou de pouca leitura ou escrita, a cada dia escrevem o grande livro da sobrevivência.
E na resposta torta, acabrunhada, dizem tudo que a gabolice dita intelectual
não sabe dizer nem compreender.
Por isso que odeio intelectuais de mídia, de
forjadas proclamações, de círculos imortais moribundos ou já mortos. Por isso
mesmo que escolho meus próprios intelectuais, aqueles que verdadeiramente têm a
ensinar o que eu preciso tanto a aprender: Seu José do Mato, Dona Maria
Rezadeira, Minervino Pescador, Tonica Lavadeira, e tantos outros que vivem como
letras vivas em livros sábios pelo suor e pelo cansaço.
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