*Rangel Alves da Costa
As imagens são fortes demais. Mil textos e
reportagens não traduzem uma imagem de uma família morta pelos russos em pleno
corredor de fuga.
Velhos e velhas saindo dos escombros para
depois caminhar levando somente uma trouxa de roupas ou de qualquer coisa.
Cabeças abaixadas, talvez tanto faz que mais um ataque lhes tire de vez a vida.
Ela já está sendo retirada.
Pais e mães carregando filhos sem qualquer
direção. Filas e mais filas de pessoas sem qualquer direção. Ao longe e pelos arredores,
somente a fumaça das ferozes investidas e os destroços do que historicamente
existiu.
Roupas grossas tentam proteger do frio ou dos
infortúnios de mais adiante. Dificilmente se avista alguém levando mala ou uma
porção maior de suas posses. As pessoas apenas seguem e tudo vai ficando para
trás. E com a terrível incerteza de algum dia voltarão.
Edifícios grandes atingindo por foguetes.
Prédios históricos sendo derrubados pela insana artilharia. Escombros e restos
por todos os lugares. Incêndios e chamas são avistados pelos horizontes. E os
ataques avançado sobre vidas.
Mas quem está fazendo tudo isso? Quem está
matando um país inteiro? Os comandantes e os poderosos não estão ali, não estão
nas frentes de batalha. São jovens, quase meninos, que são forçados a investir
e matar outros jovens e meninos, mas também pessoas de todas as idades.
Putin está em sua fortaleza de proteção nuclear.
Seus principais comandantes apenas dão ordens sem sair da proteção. Mas pelas
estadas e ruas da Ucrânia milhares de enviados levando a morte em seus tanques
e armas. Muitos desses jovens sequer sabem os reais motivos de estarem ali
ceifando tantas inocentes vidas.
A salvação é a fronteira. Todos fogem e todos
correm para as fronteiras. Casas, bens, roupas, móveis, vidas longamente
construídas, tudo vai ficando para trás. Tenta-se salvar apenas a vida, o sopro
no espírito que ainda lhes resta.
Um filho vai carregando a mãe nas costas. Um
pai vai tentar conter o choro, a fome e a sede do filho. Não há nem tempo de
olhar para trás ou de retornar para pegar o pão e a garrafa de leite. Sua casa
já está em chamas.
As ruas parecem vazias, com apenas os focos
de incêndios e os escombros marcando presença. Mas assim porque as fotografias
não falam, não gritam, não agonizam, não choram a dor do espanto e da morte.
Por todo lugar, quantos gritos, quantos choros, quantos berros aflitos?
E quantos sons ensurdecedores de tiros e
bombardeios, de aviões mortais que passam rasantes, dos mísseis cruzando os ares,
do terror avassalador por todo lugar? E pelos canais televisivos o “filho da
putin” mandando avançar mais, ordenando mais ataques e mais mortes.
Como dito, as imagens que chegam são
suficientes para mostrar a dimensão desumana e terrificante dessa guerra
forjada objetivando a usurpação de um povo e sua pátria. As imagens, contudo,
não mostram os olhos das crianças e dos idosos ucranianos.
Mas vejo e sinto cada face e cada olhar. Não
há palavra que expresse o que vejo e sinto, contudo. Não há mais olhar, apenas
a reflexão do medo, a profundidade da dor e o negrume da desesperança.
E eu aqui sabendo que logo estarei em minha
cama, que tenho comida quente e uma porta e janela para fechar. E eu aqui
pensando que tenho pouco e que me falta muito. E eu aqui pensando que sou
infeliz.
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