*Rangel Alves da Costa
Numa velha casa, numa velha moradia nas distâncias
da cidade, as cartas do tempo. Aí eu sentaria e passaria noites e dias.
Buscaria um tamborete, um caderno de escola, uma caneta ou lápis, e então
rabiscaria, na calma e paciência do mato, o que a frieza e feiura da cidade não
me deixam escrever. Há um silêncio e um ocre de solidão, mas não tem nada disso
não. O mundo-mato é assim mesmo, com vento soprando e folha voejando em meio ao
pó e ao pingo de chuva tão esperado. Cada letra vai caindo como fruto maduro da
velha árvore. “Porta e janelas fechadas, sem ninguém que soltasse uma voz, mas
ainda assim havia um cheiro bom de café torrado e de toucinho chiando na
frigideira...”. “O retrato na parede parecia me chamar. Um dia eu fui. A velha
moldura me abraçou e eu senti um cheiro bom de lavanda. Eu conhecia aquele
cheiro. E senti saudade e chorei...”. “A capela estava fechada, mas ouvi e
senti o badalar do sino, as beatas em louvação, o xale encobrindo os olhos e
rosários correndo sua fé pelas mãos magras. A igreja era um céu, cada ladainha
era um jardim florido. Paraíso que não existe mais...”. Por isso que aí eu
sentaria para escrever tudo isso. Mas só tenho o retrato diante de mim. E uma
vontade danada de entrar na moldura e viver e ser o mundo que eu quero ser e
viver. O mundo apenas sertão.
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