CANTIGA DO AMOR ETERNO
Rangel Alves da Costa*
Não fuja de mim, moça menina, flor de beijo, beija-flor, meu amor; não corra de onde estou, pois o querer alcançar voa pra qualquer lugar só pelo prazer de encontrar. E se eu for como pássaro chego com um poema no bico, jogado de cima bem diante do seu olhar, para que leia no ar e em cada palavra delirar:
“Quantos lírios somos
no jardim que amamos
se ainda não sabemos
quantos crisântemos
mais tarde seremos...”
E se apressada foge para o seu castelo, protegida pelos paredões, guaritas e armarias, como se o pobre campesino entregue ficasse à solidão dos muros e lamentos, é porque não sabe que faço encantamentos, que numa magia de lua e estrela viajo só no pensar, e feito duende entro no seu quarto só pra cantar um canto de amor pra você recordar:
“Os sóis, outros astros e luas
estrelas que passeiam na noite
todos refletem na água da rua
dos meus olhos que choram em açoite...”
E se pede ao rei que acabe de vez com o meu canto, minha asa, minha vida e minha poesia, não pense que fugirei para longe, para outras terras distantes de ti. O amor foge sem sair, se esconde sem ninguém sentir, e quando imagina que já estou distante num instante me faço surgir, numa chama e já apareci, para cantar o canto que nunca esqueci:
“Pássaro de passo de pé
e de asa quando eu quiser
para andar e para voar
fazer ninho para você pousar...”
E não mande a bruxa malvada fazer um feitiço, qualquer rebuliço para eu te esquecer. O problema não é bruxaria, mas reconhecer que quando se ama nada pode vencer, a não ser o feitiço da entrega e do juramento, acabando com a dor e o sofrimento, reconhecendo que ama e cantando o canto que clama a todo momento:
“Venha que estou aqui
dar uma flor antes de partir
é a aliança que posso te dar
e volto um dia para te buscar...”
Mas se tiver coragem, fizer o que o coração mandar, saia desse fausto e venha passear, andar pelos campos, tudo apreciar, a mais linda fonte, o azul do horizonte, uma tarde singela trazendo saudade, vendo que o mundo não é só de maldade, ter a natureza e amor de verdade, no exemplo do ninho e dos dois num cantinho, no canto de passarinho que me ouve baixinho:
“Desse amor que enlouquece
o primeiro gole ninguém mais esquece
por isso doido varrido eu sou
te buscando nunca sei onde estou...”
E nesse belo passeio, onde a brisa acaricia o véu sob esse olhar de céu, toda a beleza ao redor fica a te mirar, olhando com meus olhos e querendo te amar, tanto amor que possuo e um dia vou dar, porque sou jardineiro e estou onde está, chegando com o vento só para o canto cantar:
“Amor, meu amor, meu amor
repete o eco porque já não estou
fuji ontem da cruel solidão
e hoje repouso no teu coração...”.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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