SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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sábado, 30 de julho de 2011

TEMPESTADE - 82 (Conto)

TEMPESTADE – 82

                          Rangel Alves da Costa*


Diante da pergunta de Teté, o seminarista se aproximou ainda mais do grupo e chamou-o para bem perto e, mesmo sem dar a resposta tão esperada, indagou do rapaz:
“Mas você não sabe quem pode ter causado ou ajudado a causar mais violentamente essa tempestade? Lá na montanha onde você esteve há instante atrás não lhe falaram sobre isso não, sobre quem poderia causar uma catástrofe dessas?”.
E Teté balançava a cabeça, batia o pé, apertava as mãos, tentando lembrar-se das palavras ouvidas lá na montanha. Enfim, falou:
“Não sei quem me disse, pois só ouvi a voz, mas lembro muito bem que ouvi dizendo que somente Deus possui o poder sobre o mundo, sobre a vida, sobre a natureza e os ventos, as chuvas e até as tempestades. Só ele pode mandar chover e fazer a chuva parar. Mas também disse que isso tudo somente pode ocorrer normalmente se as coisas da terra continuassem como Deus criou, com tudo ocorrendo normalmente, pois quando o homem transforma a natureza então ele passa a ser culpado pelas tragédias que acontecem. Então o culpado é o homem...”.
E Tristão interrompeu para dizer: “Excelente recordação, e certamente que é o homem o responsável por isso tudo de ruim que acontece ao transformar a natureza, destruindo e devastando numa avidez desenfreada. Quando isso ocorre as estações perdem as suas características e os ciclos de chuvas se desnorteiam, e o que é pior, uma chuva mais forte pode se transformar numa tempestade igual a essa. Sim, meus amigos, certamente que é o homem, mas agora pergunto se um homem normal, de boa índole e consciente provoca tanta destruição. E eu mesmo respondo que certamente não. Só poderia fazer isso aquela raça de homens com instinto de feras bestiais. Repito, só os homens irracionais podem agir para destruir o próprio homem. Daí que quando a notícia do jornal dizia que “o mais impressionante é que tudo isso não foi causado por nenhuma mudança climática nem por força de intervenção divina, mas pelo próprio homem. Não propriamente por homens, mas por...”, nesse mais por entenda-se por homens feras, homens bestiais, homens irracionais, homens que agem com a intenção de destruir, de provocar catástrofes como esta que estamos sofrendo agora...”.
“Então quer dizer que o culpado disso tudo acontecer, destruindo e matando gente, é do próprio homem, mas não um homem normal como a gente, mas outro tipo de homem que nem deveria existir, não é isso mesmo?”, perguntou Teté, agora muito mais aliviado. E o seminarista continuou:
“Isso mesmo Teté. E na montanha você também ouviu estas palavras: “Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana”. O que isto significa? Simplesmente que a natureza foi domada pelo homem, que a degradou e destruiu, e cujas consequencias podem ser vistas quando cai uma tempestade dessas e arrasta tudo que encontra pela frente. Ora, meu filho, as chuvas são obras divinas, mas tudo com seu comedimento, mas quando o homem desmata e torna tudo demasiadamente aquecido, o que deveria vir como chuva se torna rapidamente numa tempestade destruidora, que infelizmente faz vítimas inocentes...”. E a voz que lhe falou isso o fez exatamente para mostrar que existe um tipo de homem ruim que amansa e doma a natureza para depois destruí-la. E com a destruição e a devastação nós é que sofremos as consequencias, como está ocorrendo agora.
As mulheres ouviam isso tudo num estado quase letárgico, paradas, vagando nas palavras ouvidas, de tão bonitas e inteligentes que nem abriam a boca para interferir, para atrapalhar em nada. Mas Teté logo arrumou outra preocupação, um problema a resolver que agora lhe povoava o juízo que possuía. Então achou melhor esclarecer logo as coisas de uma vez por todas e perguntou:
“O seminarista explicou direitinho, mas tem uma coisa que fiquei pensando aqui. Como é que você, estando aqui, sabe de tudo que se passou lá na montanha, sabe até dizer palavra por palavra, letra por letra, sobre o que a voz disse lá?”.
E o seminarista baixou a cabeça pensativo, refletindo se revelaria o motivo pelo qual havia tomado conhecimento de tudo, e de tal forma que tudo ficou gravado na sua memória. Que acreditassem ou não, achou por bem dizer a verdade:
“Vocês acreditam em anjos? Se acreditarem tenham certeza que anjos estão por aqui, que estão entre nós e pairando sobre nossas cabeças, voando por todos os lugares, estão os anjos do nosso dia a dia, os nossos guardiões, os nossos mensageiros. E possam acreditam também que um anjo me apareceu enquanto eu estava desacordado e fez com que eu tomasse conhecimento de tudo aquilo que se passou na montanha. Certamente que ele veio em missão, como mensageiro, obedecendo um desígnio de Deus para me revelar tudo o que se passou e de modo que eu não esquecesse nenhuma palavra. E por que isto ocorreu comigo? Ora, a sabedoria divina não demora em alimentar o homem daquilo que ele precisará para viver com a verdade. E tão útil foi aquela revelação que aqui, neste momento, tudo está sendo esclarecido...”.
Mas nesse instante Antonieta deu um passo à frente e disse que o seminarista desculpasse, porém nem tudo estava ainda esclarecido. Tristão perguntou-lhe o que faltava esclarecer e ela disse com precisão: “O que estava escrito no caderninho que quando botei os olhos nas primeiras letras passei mal, me aconteceu algo tão misterioso que caí desmaiada?”.
Então Teté tomou a palavra para deixar todos boquiabertos: “Isso aí não cabe ao seminarista não. Cabe a mim descobrir onde está o caderninho e o que nele está escrito. Assim que eu conseguir desvendar esse mistério, achar o tal caderno e fazer com que leiam os escritos, então a tempestade passará e o sol voltará a brilhar”.

                                                      continua...






Poeta e cronista
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