O QUE OS ANJOS DIZEM A DEUS
Rangel Alves da Costa*
Segundo a tradição religiosa, anjos são guardiões especiais, espíritos puros criados por Deus antes da humanidade para transmitir a sua vontade, anunciar acontecimentos, ungir de calma e serenidade a vida do homem, ensinando-o e guiando-o segundo a vontade divina. Mas também, e principalmente, os anjos são mensageiros entre o céu e a terra.
Segundo o Evangelho de Lucas (1: 26), eles trazem as mensagens de Deus para as pessoas. O Salmo 103,20 também confirma tal encargo, ao indicar que anjos são servidores e mensageiros de Deus, "poderosos executores da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra".
Nessa incumbência celestial, está claro que os anjos não fazem uma comunicação de via única, ou seja, não somente trazem os ordenamentos divinos perante os homens, como meros executores, como também fazem a comunicação inversa. Quer dizer, ouvem os silenciosos reclamos das pessoas e levam ao conhecimento de Deus.
Poderia ser até diferente diante dos atributos divinos da onipresença, onisciência e onipotência, como poderes supremos que permitem estar em tudo, em todos e a todo tempo, ter consciência de tudo e sobre tudo, e ser capaz de tudo fazer.
Mas a sabedoria divina, que age através do conhecimento e das ações imperceptíveis, reclama para si o atendimento primordial àqueles que estão atentos e são cumpridores de sua palavra. Daí que determinadas pessoas, seguidoras dos ensinamentos divinos, são mais facilmente atendidas nos seus pleitos, nos seus pedidos e rogos. E esta comunicação é feita através dos anjos.
E assim, Deus que tudo sabe, tudo pode e tudo vê, é sempre consciente de como cada um age sobre a terra, mas ainda assim recebe os anjos para conhecer das necessidades humanas e ordenar que se faça segundo o seu desejo. Então, chega o anjo mensageiro e ao mesmo tempo em que relata o que está ocorrendo, diz sobre os rogos que foram feitos, retornam a terra para cumprir aquilo que foi determinado por Deus.
E Deus ordena, por exemplo, que proteja os passos da pessoa na sua caminhada, que dê a luz da sabedoria na tomada de decisões importantes, que norteie o indivíduo sempre pela boa estrada e faça chegar à sua mente os perigos de se desviar desse caminho, que dê inspiração e cautela para criar coisas boas para a humanidade, que reacenda no peito de cada um a chama da esperança, da obediência e do amor.
Contudo, verdade é que os anjos mensageiros se sentem bem melhor ouvindo de Deus o que devem fazer do que comunicar a Ele o que as pessoas mais precisam e pedem para ser agraciadas, por uma dádiva, um reconhecimento ou verdadeiro milagre. É que até os anjos se entristecem com o sofrimento de muitos e não conseguem evitar a expressão dolorosa quando dizem de tantas aflições e angústias.
Algumas dessas coisas que os anjos dizem a Deus nos chegam ao conhecimento pelos próprios guardiões no seu retorno para continuar com suas missões. Não é difícil senti-los mais próximos, mais pertinho, em todo nosso redor e querendo nos envolver num abraço, num carinho, num gesto de afeto e conforto. É a prova que eles repassaram ao divino nossas preces acompanhadas de súplicas aflitivas.
Como seres imparciais, que não mentem para prejudicar nem por outro motivo, os anjos relatam aquilo que verdadeiramente ouviram de nossas bocas nos instantes das fervorosas preces, mesmo que também tenham sofrido por conhecer os motivos das desesperanças, das dores, das tristezas, dos sofrimentos.
E porque acontece assim, certa vez um anjo mensageiro, após o Senhor ter perguntado o que trazia como súplica, disse:
“Meu Senhor Deus, envergonho-me e penitencio-me em trazer a face tão triste diante de Vossa presença, quando o que tenho a dizer diz mais respeito a mim do que a pessoa que me tem como anjo da guarda. Ela é tão jovem, tão bela, tão pura e inocente, mas sofre tanto na solidão amorosa que pede Vossa intercessão. Então, eu te peço Senhor, concedei-me a graça de ser humano para aplacar aquela solidão, alegrar festivamente aquele doce coração”.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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