UMA MOÇA BONITA
Rangel Alves da Costa*
Quem a avistasse descendo até o riachinho para lavar roupa, à primeira vista diria que estou mentindo, que ali não havia uma moça bonita. E talvez tivesse razão se fosse considerada apenas a aparência física da pessoa, o seu rosto, o cabelo, a roupa que vestia.
Realmente não tinha aparência nem de deusa nem de flor, nem de anjo nem de alvorecer ensolarado. Não era alta, apenas mediana; um pouco cheinha, pra não querer dizer que era esbelta; não era de um moreno marrom, mas de uma negritude legítima, autêntica; com a cor negra e jamais tendo alisado ou feito qualquer tentativa de estirar o cabelo, este era bem cacheado de formar bolotinhas; de rosto firme, bem definido, normal, e lábios carnudos, acentuando um semblante apenas atraente.
Como visto, ela não se adequava à concepção estética da beleza, segundo a qual o belo está na magreza, no corpo sedutor, no rosto definido pela maquiagem e no andar todo voltado para o dançar da bunda. Pelo contrário, se havia alguma coisa realmente bela naquela moça era o seu jeito autêntico de ser, sem frescuras, sem precisar de joias e brilhantes para ser reconhecida e valorizada enquanto mulher.
De família humilde, ainda estudando e acalentando sonhos, não tinha vergonha de sair de casa com uma trouxa de roupas na cabeça e caminhar pela rua até enveredar pela estrada que a levava ao riachinho. Lavava roupas dos outros e depois passava ferro para garantir uns trocados. Honestamente, trabalhava no que fosse preciso para garantir o seu.
Com a renda do mês, primeiro ajudava em casa e depois comprava suas coisinhas: um pano de feira que se transformava numa roupa bonita, uma sandália na promoção, um frasco de perfume para andar toda cheirosa. Se gastava desnecessariamente, fazia isso apenas quando se dava ao luxo de ajudar pessoas mais pobres que ela. Gostava de comprar presentinhos para amigas da comunidade, coisas como um batom, um esmalte, uma calcinha, uma blusa barata. Mas também um quilo disso ou daquilo, um biscoito, uma chinela.
Sabendo ler e escrever, assim que podia se reunia com a meninada para ajudar nas suas lições, tirar suas dúvidas, conversar sobre assuntos que achava importantes para o crescimento e a formação do caráter de todos. Assim, conversava sobre sexo, drogas, violência, religião, aspectos comportamentais do ser humano, procurando sempre acentuar os aspectos positivos e negativos de cada assunto.
Quando tomava conhecimento que qualquer pessoa da comunidade estava com problemas ou passando por dificuldades, abandonava o que estivesse fazendo e subia morro, descia ladeira, caía, escorregava, mas batia na porta e ia colocar a cabeça do outro no seu colo, procurar saber o que estava ocorrendo, tentar ajudar no que fosse possível. Chorava a mesma lágrima do outro, sentia a mesma dor, não se sentia bem enquanto não amenizasse ou resolvesse a situação.
Tinha sonhos, muitos sonhos, e grandes, imensos sonhos. E tinha planos, imensos planos e desejos infinitos. Queria arranjar o namorado mais bonito do mundo, mas de uma beleza igual a dela, com a lindeza no coração e formosura no jeito simples de ser, viver e sentir o mundo ao redor.
Queria um dia ser milionária, muito rica mesmo, mas apenas para dividir o que possuísse com as pessoas que tanto conhecia e sabia das necessidades. Queria ser uma doutora da igreja, ser a pessoa que melhor entendesse os ensinamentos bíblicos e transmitir as mais belas lições divinas a todos que desejassem ouvir. Queria ser muito mais do que era, mas apenas para ser na medida do que o outro precisasse de sua ajuda.
Olhava-se no espelho e se achava bonita demais, a mulher mais bonita do mundo, uma verdadeira princesa. E quando saía na calçada, andava pelas ruas, ia conversar com as pessoas, assim que passava caminhando quem a conhecia logo dizia que realmente ali ia a moça mais bonita do mundo. Coração sem igual, um doce de pessoa, a bondade de Deus sobre a terra. Linda.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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